quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fortuna (Instituto Moreira Sales)


          Estão escondidas. Duas salas apertadamente escuras. São pequenas assim como o tempo é curto nas animações de Kentridge. Elas ficam passando e passando... Como em um sonho maluco. Maluco não, surrealista.

EM QUALQUER LUGAR DO MUNDO

          O olho que tudo vê, desenhado e real, tem seu caráter biológico potencializado de acordo com a criação dos meios de comunicação. A dualidade humana (homem/animal) é intermediada pela representação do rádio, da máquina fotográfica. A mídia é capaz de revelar tanto o melhor de uma pessoa quanto o pior. Uma mulher nua não é mais o limite da nossa visão, podemos enxergá-la até os ossos. O homem transforma-se no olho, que se transforma na máquina; transformando-se em animal e tornando-se máquina novamente. A máquina vira o homem, que tira o animal para dançar. Esse processo comove milhões, seja para guerra, seja para a paz ou até alienação.

 Umbu tells the truth.
          No vídeo Shadow Procession, são retratadas migrações e suas adversidades. Descreve-se as etapas e episódios da vida cotidiana. Há alusões ao tempo e seu fluxo contínuo. Carregamos nossos feitos como fardos. Tudo muito circular. Como se quiséssemos, com sucesso, alcançar nível mundial.

Shadow Procession
          Já em Tolher Faces, identifica-se uma agressividade explícita. Preconceito e submissão estão em destaque. O esboço vermelho salienta o clima tenso. Ao mesmo tempo, trabalhadores dançam com enxadas. É a criação de uma contra-cultura, que consegue subverter as adversidades e reforçar uma identidade, um pertencimento social, driblando a grande opressão. Por fim, com a morte do filho da classe dominante, os papéis são invertidos. Dominados viram dominantes e vice-versa.
               A videoarte de William Kentridge é densa, você sai da exposição com o bagageiro mais pesado. É altamente politizada e quase não permite um processo de abstração, apesar do artista utilizar uma linguagem subjetiva. Com temas universais, não existe um lugar deste planeta em que o conteúdo não seja entendido.






Grupo:
Fabian Falconi
Gabriela Isaias
Laís Januzzi
Mariana Parga
Thiago Patrick

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Adriana Varejão (MAM)


Histórias às Margens é a primeira mostra panorâmica da artista plástica Adriana Varejão, que chegou ao Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro. Com curadoria de Adriano Pedrosa, a exposição é composta por 40 obras concebidas por ela nos últimos 21 anos. O trabalho da artista, desde o início, vem marcado pela presença de dois elementos recorrentes: o azulejo e a carne. Tais obras são espécies de esculturas/pinturas em forma de ruínas, revestidas por azulejos. No interior, em contraste com a superfície plana e geometrizada do exterior, encontramos a representação da carne. No lugar de onde deveria haver cimento, há carne vermelha e vísceras. Por conta de tais vísceras serem muito realistas, as obras são um tanto quanto chocantes.







           Através da releitura de elementos visuais que remetem à cultura brasileira no período de colonização, Adriana utiliza a pintura de azulejos portugueses, e discute relações paradoxais entre sensualidade e dor, violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva. Ela utiliza a técnica de fragmentar uma imagem criada a partir dos azulejos, para depois remonta-la de forma aleatória e deixando os cortes bem evidentes. Ela mistura o velho com o novo mundo.






        Além de sua obra ter como base o período colonial brasileiro, a artista também se inspira nos botequins cariocas e nos banheiros públicos europeus. Nas suas pinturas testemunhamos uma permutação de visões que englobam o excelso, o ouro, os anjos, de tradicionais obras barrocas, para um universo barroco agora selvagem, voraz, vermelho, erotizado e em carne viva. O movimento artístico reproduzido por Adriana Varejão não está nos livros, na internet, nem na história da arte. A carioca busca produzir aquilo que está em voga na sociedade. São criações que ultrapassam o plano da tela. Dessa forma, ela se encaixa na geração de artistas que cria seu próprio movimento e escolhe por quem se influenciar. 





Grupo: Bianca Pinheiro, Isabela Braga, Isadora Vilardo, Thaís Scarlet e Viviane Botelho 



Videoarte 2013




A exposição "Videoarte 2013" está aberta para o público no Oi Futuro Ipanema de 12 de janeiro à 31 de março. Com nomes talentosos da arte contemporânea, como Tadeu Jungle, Nazareno, Maria Lynch e outros, a mostra acontece em uma sala escura e nos expõe obras: em telas, algumas acompanhadas de fones de ouvido para o conteúdo de áudio, na nova era da arte, a digital.
A mostra reúne obras variadas feitas de 2005 até o ano passado e nos introduz ao mundo da videoarte, nos mostrando as milhares de possibilidade da criação nesse ainda novo e inexplorado campo, uma nova dimensão criativa. A conversa entre as obras dos autores, não contemporâneas, é importante ressaltar, é muito pouca. Algumas chegam a tocar o mesmo tema, como as obras que tocam o tema dos olhos, mas o convite não é a reflexão sobre o tratamento de um tema na arte, mas na própria criação artística audiovisual - algumas vezes simplesmente visual - da videoarte.
É esse convite que é irrecusável. Alberto Saraiva, o curador da exposição, nos convida a deleitar da experiência de vídeo e das diversas possibilidades de sua criação através do universo de cada artista. Mistura imagem, movimento e as artes da fala - os vídeos abusam de animação de foto, vídeo, performance, pinturas, e da linguagem falada. É essa porta de oportunidades que se abre diante dos olhos em cada televisor. Impressionantemente, na era da comunicação digital, da produção de vídeo e imagem virtuais, ainda somos apresentados a esse tipo artístico como uma novidade. A Exposição "Videoarte 2013" cumpre seu papel e nos traz mais para dentro desse mundo, que é nosso, e ainda é distante.


Grupo: Bianca Pinheiro, Isabela Braga, Isadora Vilardo, Thaís Scarlet e Viviane Botelho 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Resenha - A Invenção de Morel




Estar na Ilha e mais nada. A Ilha é o ponto de partida de onde começa o próprio livro e de onde tem início reflexões de caráter psicológico e visual. A idéia de um fugitivo, perdido no inóspito, confinado a pântanos e à uma possibilidade de morte iminente se confronta de início com uma vivência exterior de modernidade .
Composto em forma de diário, o livro é baseado no ponto de vista do personagem principal e como ele lida com a solidão e as situações na ilha.
Ao deparar-se com um grupo de turistas, a princípio tem receio de se fazer perceber; apaixona-se por Faustine, uma bela jovem espanhola, de quem decide tentar ser aproximar, mas sem sucesso. Nota, então, que não pode ser visto pelos outros habitantes, pois são imagens captadas de turistas e projetadas por uma máquina inventada pelo doutor Morel, um dos turistas que registrou os momentos na ilha com seus amigos e os perpetuou nessas projeções.
 As imagens estão eternamente destinadas a realizar as mesmas ações para sempre, ou ao menos até que o funcionamento da máquina seja desativado. Desse modo, a situação do protagonista torna-se ainda mais solitária de sem esperanças, pois as diversas companhias que acreditava habitarem a ilha e a mulher por quem se apaixonou, são apenas imagens repetidamente apresentadas.

Ao tratar de um assunto que transita entre o virtual e o real, Casares leva o leitor moderno a reflexões sobre o nosso próprio tempo e o modo como lidamos com a tecnologia que avança a ritmo avassalador.

Num mundo onde as relações virtuais fazem cada vez maior parte do dia-a-dia das pessoas, A invenção de Morel nos traz um questionamento interessante: podemos amar o virtual, e, se sim, seria uma situação de amor real? O personagem, enquanto amou a imagem da turista, que não mais estava em pessoa na ilha, mas apenas em projeção, viveu um sentimento semelhante a qualquer outra paixão. Porém, no momento em que descobre tratar-se de uma imagem, é preso ao dilema de continuar sua vida ou transformar-se também numa imagem e desse modo perpetuar, mesmo que perdendo a essência humana, sua existência. E é essa a opção que faz, ao final.

A velha ambição humana de enganar a morte também em facilmente identificável na invenção, embora o sucesso seja questionável, pois a vida circular e repetitiva das projeções não reproduz a real vida humana mutável e de infindáveis variações.


Grupo: Mariana Ramalho, Taisa Martins, Marcela de Orlandis, Eduardo Tavares, Andre Klodja.