domingo, 30 de dezembro de 2012

+ Luz (Parque Lage)


          Entrar no Parque Lage e não se encantar com o local é uma tarefa quase impossível para qualquer um. O oásis natural em meio à modernidade da metrópole abriga jardins construídos nos moldes europeus, chafariz, palmeiras imperiais, locais para descanso, cursos artísticos e uma exuberante vegetação.
          A mansão dos Lage – hoje tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - possui, além da Escola de Artes Visuais, algumas exposições artísticas por suas dependências. Entre as amostras de dezembro, encontram-se "Tempo Vero", de Leonardo Tepedino, "Ferramental para Fábulas", de Fábio Naranno e "Mais Luz", de Fábio Naranno e Gustavo Torres.

37 GRAUS DE PURA ARTE

          Mochila nas costas, bloco de anotações na mão esquerda. Caneta na mão direita. Máquina fotográfica a tira colo e as gotas de suor que não deixavam esconder aquela agradabilíssima temperatura que girava em torno de 37ºC. Amado pelos turistas, venerado pelos cults, recanto de pássaros e árvores, lugar perfeito para um piquenique de fim de tarde. Lá estava ele, escondido por um muro tomado de musgos e convivendo harmoniosamente com a movimentada rua Jardim Botânico: o magnífico Parque Lage!
          Seguindo o caminho dos antigos paralelepípedos do chão ou preferindo uma "aventura mais selvagem" por entre as árvores e seus troncos, chega-se, rapidamente, às Cavalariças (onde estava "Tempo Vero", exposição de Leonardo Tepedino). O amplo salão dispunha, em suas instalações, de duas imensas estruturas feitas de madeira, que, a princípio, pareciam não ter forma alguma que não a de curvas aleatórias sem muita finalidade. Porém, um observador mais atento percebe que aqueles monumentos não foram feitos sem propósito e que existe um sentido por trás de tudo aquilo: as peças esculpidas lembram as pernas de uma aranha. São estruturas que fazem referência à arquitetura renascentista de Brunelleschi, que permitia visões tridimensionais de sua arte. E aí é que se encontra todo o encantamento do observador dessa obra de arte: as pernas, nervuras e articulações da aranha vão expandindo e moldando-se conforme a disponibilidade do espaço, que vai sendo posto à prova a cada curva e ângulo da madeira esculpida. Segundo a crítica Marisa Flórido César, “É como se o mundo, aos poucos, fosse abandonando o rígido molde que o constringia, as leis e as regularidades que o ordenavam.”



           Ao andar um pouco mais em direção ao palácio do Parque observava-se, logo no hall de entrada, alguns outros trabalhos, tais como pedaços de autorama pintados de branco (que, dispostos como estavam, formavam um belo desenho), uma grande minhoca (ou cobra, lagarta, lesma e o que mais a imaginação permitir) feita a partir de tampas multicoloridas de diversos recipientes, entre outros.



          Rumo ao subsolo da casa, descendo as escadas, em uma galeria aparentemente “secreta”, desconhecida pela maior parte dos visitantes do Lage, estava uma das exposições mais criativas de todos os tempos da última semana:  “Ferramental para Fábulas”. Fábio Naranno, o artista, dispôs inúmeras esculturas de modo que parecessem suspensas no ar e mexessem com o imaginário dos visitantes que fora esquecido na infância. Aquelas diversas figuras eram, simultaneamente, estranhas e familiares: faziam recordar imagens e personagens perdidos no tempo e na memória. Ninguém melhor que o próprio artista para explicá-las: “Do prazer inocente da brincadeira imaginativa de uma criança, que transforma objetos banais nos mais mirabolantes brinquedos, nasce a ideia do trabalho que propõe ao espectador criar um tempo em suspensão, de memória, um mundo fabuloso que conte uma história, a partir das ferramentas exibidas a ele como ponto de partida para uma construção fantástica de infinitas possibilidades onde cada um apreende, absorve e expande o que quiser entender, o que contém dentro de si. Construa a sua própria fábula!”


           
          Ainda naquela espécie de “porão artístico” (o subsolo que abriga artes, em questão), estava exposta outra parte da coletiva “Mais Luz”.  Ela era composta por um antigo projetor que reproduzia o filme de um bebê em telas de pano. Era como se fosse possível ver, materialmente, o que só se faz presente na consciência: a memória. A imagem borrada e desfocada, as cores inexatas, a textura do pano, a disposição do tecido, o escuro ao redor. Tudo fazia com que aquela imagem parecesse lembrança, passado. Nas palavras de Gustavo Torres, um dos autores: “Por agora, me interessa o que já está. A matéria, a memória; e esperar que o olhar, a relação crie o porvir. A partir da projeção de filmes em super 8, garimpados em feiras – estes repetem, retornam, até que rompem – , investigo os processos da memória. Descarte e esquecimento, lembrar – atualizar, ato versus superfície, memória alheia como dispositivo de lembrança íntima. Utilizo projetores, película super 8, panos, mesa, moviola, entre outros, com dimensões variadas.”



          E assim encerrou-se a visita a um dos mais charmosos pontos turísticos do Rio de Janeiro. Um dia de excursão às pernas aracnídeas e minhocas (lesmas, cobras e afins) coloridas, retorno às fábulas infantis, albinos autoramas, passeios pela memória alheia e, é claro, muito calor. Foram os 37º graus mais artísticos de que se tem notícia.




Grupo:
Fabian Falconi

Gabriela Isaias
Laís Januzzi
Mariana Parga
Thiago Patrick

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