quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fortuna (Instituto Moreira Sales)


          Estão escondidas. Duas salas apertadamente escuras. São pequenas assim como o tempo é curto nas animações de Kentridge. Elas ficam passando e passando... Como em um sonho maluco. Maluco não, surrealista.

EM QUALQUER LUGAR DO MUNDO

          O olho que tudo vê, desenhado e real, tem seu caráter biológico potencializado de acordo com a criação dos meios de comunicação. A dualidade humana (homem/animal) é intermediada pela representação do rádio, da máquina fotográfica. A mídia é capaz de revelar tanto o melhor de uma pessoa quanto o pior. Uma mulher nua não é mais o limite da nossa visão, podemos enxergá-la até os ossos. O homem transforma-se no olho, que se transforma na máquina; transformando-se em animal e tornando-se máquina novamente. A máquina vira o homem, que tira o animal para dançar. Esse processo comove milhões, seja para guerra, seja para a paz ou até alienação.

 Umbu tells the truth.
          No vídeo Shadow Procession, são retratadas migrações e suas adversidades. Descreve-se as etapas e episódios da vida cotidiana. Há alusões ao tempo e seu fluxo contínuo. Carregamos nossos feitos como fardos. Tudo muito circular. Como se quiséssemos, com sucesso, alcançar nível mundial.

Shadow Procession
          Já em Tolher Faces, identifica-se uma agressividade explícita. Preconceito e submissão estão em destaque. O esboço vermelho salienta o clima tenso. Ao mesmo tempo, trabalhadores dançam com enxadas. É a criação de uma contra-cultura, que consegue subverter as adversidades e reforçar uma identidade, um pertencimento social, driblando a grande opressão. Por fim, com a morte do filho da classe dominante, os papéis são invertidos. Dominados viram dominantes e vice-versa.
               A videoarte de William Kentridge é densa, você sai da exposição com o bagageiro mais pesado. É altamente politizada e quase não permite um processo de abstração, apesar do artista utilizar uma linguagem subjetiva. Com temas universais, não existe um lugar deste planeta em que o conteúdo não seja entendido.






Grupo:
Fabian Falconi
Gabriela Isaias
Laís Januzzi
Mariana Parga
Thiago Patrick

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Adriana Varejão (MAM)


Histórias às Margens é a primeira mostra panorâmica da artista plástica Adriana Varejão, que chegou ao Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro. Com curadoria de Adriano Pedrosa, a exposição é composta por 40 obras concebidas por ela nos últimos 21 anos. O trabalho da artista, desde o início, vem marcado pela presença de dois elementos recorrentes: o azulejo e a carne. Tais obras são espécies de esculturas/pinturas em forma de ruínas, revestidas por azulejos. No interior, em contraste com a superfície plana e geometrizada do exterior, encontramos a representação da carne. No lugar de onde deveria haver cimento, há carne vermelha e vísceras. Por conta de tais vísceras serem muito realistas, as obras são um tanto quanto chocantes.







           Através da releitura de elementos visuais que remetem à cultura brasileira no período de colonização, Adriana utiliza a pintura de azulejos portugueses, e discute relações paradoxais entre sensualidade e dor, violência e exuberância. Seus trabalhos mais recentes trazem referências voltadas para a arquitetura, inspirada em espaços como açougues, botequins, saunas, piscinas etc, e abordam questões tradicionais da pintura, como cor, textura e perspectiva. Ela utiliza a técnica de fragmentar uma imagem criada a partir dos azulejos, para depois remonta-la de forma aleatória e deixando os cortes bem evidentes. Ela mistura o velho com o novo mundo.






        Além de sua obra ter como base o período colonial brasileiro, a artista também se inspira nos botequins cariocas e nos banheiros públicos europeus. Nas suas pinturas testemunhamos uma permutação de visões que englobam o excelso, o ouro, os anjos, de tradicionais obras barrocas, para um universo barroco agora selvagem, voraz, vermelho, erotizado e em carne viva. O movimento artístico reproduzido por Adriana Varejão não está nos livros, na internet, nem na história da arte. A carioca busca produzir aquilo que está em voga na sociedade. São criações que ultrapassam o plano da tela. Dessa forma, ela se encaixa na geração de artistas que cria seu próprio movimento e escolhe por quem se influenciar. 





Grupo: Bianca Pinheiro, Isabela Braga, Isadora Vilardo, Thaís Scarlet e Viviane Botelho 



Videoarte 2013




A exposição "Videoarte 2013" está aberta para o público no Oi Futuro Ipanema de 12 de janeiro à 31 de março. Com nomes talentosos da arte contemporânea, como Tadeu Jungle, Nazareno, Maria Lynch e outros, a mostra acontece em uma sala escura e nos expõe obras: em telas, algumas acompanhadas de fones de ouvido para o conteúdo de áudio, na nova era da arte, a digital.
A mostra reúne obras variadas feitas de 2005 até o ano passado e nos introduz ao mundo da videoarte, nos mostrando as milhares de possibilidade da criação nesse ainda novo e inexplorado campo, uma nova dimensão criativa. A conversa entre as obras dos autores, não contemporâneas, é importante ressaltar, é muito pouca. Algumas chegam a tocar o mesmo tema, como as obras que tocam o tema dos olhos, mas o convite não é a reflexão sobre o tratamento de um tema na arte, mas na própria criação artística audiovisual - algumas vezes simplesmente visual - da videoarte.
É esse convite que é irrecusável. Alberto Saraiva, o curador da exposição, nos convida a deleitar da experiência de vídeo e das diversas possibilidades de sua criação através do universo de cada artista. Mistura imagem, movimento e as artes da fala - os vídeos abusam de animação de foto, vídeo, performance, pinturas, e da linguagem falada. É essa porta de oportunidades que se abre diante dos olhos em cada televisor. Impressionantemente, na era da comunicação digital, da produção de vídeo e imagem virtuais, ainda somos apresentados a esse tipo artístico como uma novidade. A Exposição "Videoarte 2013" cumpre seu papel e nos traz mais para dentro desse mundo, que é nosso, e ainda é distante.


Grupo: Bianca Pinheiro, Isabela Braga, Isadora Vilardo, Thaís Scarlet e Viviane Botelho 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Resenha - A Invenção de Morel




Estar na Ilha e mais nada. A Ilha é o ponto de partida de onde começa o próprio livro e de onde tem início reflexões de caráter psicológico e visual. A idéia de um fugitivo, perdido no inóspito, confinado a pântanos e à uma possibilidade de morte iminente se confronta de início com uma vivência exterior de modernidade .
Composto em forma de diário, o livro é baseado no ponto de vista do personagem principal e como ele lida com a solidão e as situações na ilha.
Ao deparar-se com um grupo de turistas, a princípio tem receio de se fazer perceber; apaixona-se por Faustine, uma bela jovem espanhola, de quem decide tentar ser aproximar, mas sem sucesso. Nota, então, que não pode ser visto pelos outros habitantes, pois são imagens captadas de turistas e projetadas por uma máquina inventada pelo doutor Morel, um dos turistas que registrou os momentos na ilha com seus amigos e os perpetuou nessas projeções.
 As imagens estão eternamente destinadas a realizar as mesmas ações para sempre, ou ao menos até que o funcionamento da máquina seja desativado. Desse modo, a situação do protagonista torna-se ainda mais solitária de sem esperanças, pois as diversas companhias que acreditava habitarem a ilha e a mulher por quem se apaixonou, são apenas imagens repetidamente apresentadas.

Ao tratar de um assunto que transita entre o virtual e o real, Casares leva o leitor moderno a reflexões sobre o nosso próprio tempo e o modo como lidamos com a tecnologia que avança a ritmo avassalador.

Num mundo onde as relações virtuais fazem cada vez maior parte do dia-a-dia das pessoas, A invenção de Morel nos traz um questionamento interessante: podemos amar o virtual, e, se sim, seria uma situação de amor real? O personagem, enquanto amou a imagem da turista, que não mais estava em pessoa na ilha, mas apenas em projeção, viveu um sentimento semelhante a qualquer outra paixão. Porém, no momento em que descobre tratar-se de uma imagem, é preso ao dilema de continuar sua vida ou transformar-se também numa imagem e desse modo perpetuar, mesmo que perdendo a essência humana, sua existência. E é essa a opção que faz, ao final.

A velha ambição humana de enganar a morte também em facilmente identificável na invenção, embora o sucesso seja questionável, pois a vida circular e repetitiva das projeções não reproduz a real vida humana mutável e de infindáveis variações.


Grupo: Mariana Ramalho, Taisa Martins, Marcela de Orlandis, Eduardo Tavares, Andre Klodja.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Fortuna parte 2


Exposição: Fortuna (William Kentridge)
Local: Instituto Moreira Sales
Curador (a):

De volta ao Instituto Moreira Sales e à exposição Fortuna de William Kentridge, pudemos conhecer uma parte importante da obra do artista que não havia sido apreciada durante a primeira visita.
Na Galeria do instituto está exposto um dos mais importantes trabalhos de William Kentridge, pelo qual o mesmo passou a ser reconhecido e ganhou prestígio internacional. Drawings for Projection (desenhos para projeção) mostra uma série de curtas do artista, cuja produção foi iniciada em 1989 e o último vídeo finalizado no ano passado.
Essa série é, segundo o próprio Kentridge, o alicerce da sua produção. Após apreciá-la, torna-se mais fácil compreender os diálogos que os desenhos e os filmes mantêm. Grande parte dessa série está focada na forma e no fazer, mostrando, através da desconstrução, como a obra fora construída. Ademais é possível encontrar os mesmos elementos materiais em diferentes vídeos, o que deixa claro a ligação que os vídeos mantêm entre si.
Entre os vídeos expostos, um deles, em especial, atrai muita atenção. Viagem á Lua (2002) ganhou muita visibilidade desde a primeira exposição de Kentridge, evidenciando uma ligação de seu trabalho com George Meliés. O intrigante vídeo, que contou com a participação especial da esposa de Kentridge, permite diversas leituras em torno dele a partir da singularidade do observador. A referida obra vai do microcosmo à imensidão, partindo, por exemplo, de um amontoado de formigas ao no universo das constelações. Ou seja, Através do processo de transformação, somos levados do que é comum, próximo ou, até mesmo, cotidiano para o que é distante e apreciado. É como a xícara de café que se torna o telescópio que permite admirar a lua.
Com Drawings for Prjectio, William Kentridge evidencia o seu método de trabalho e o processo das transformações constante pelas quais as imagens passam. É um maravilhoso trabalho que nos convida a uma imersão reflexiva mais profunda e nos aproxima do universo criativo.

Grupo: Daniel Luz, Beatriz Barros e Juliana Ferraz

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Laura Lima - Eva Klabin‏





A exposição “Cinema Shadow / Segundo”, da artista Laura Lima, na fundação Eva Klabin, nos leva a encarar o tempo e a imagem de maneira diferente à que estamos acostumados. A arista filma os ambientes da casa por 3 horas num plano sequencia, e as imagens são transmitidas ao vivo para o público.




Assistindo a imagens que estão sendo captadas ao vivo, quebramos o padrão ao qual estamos acostumados: assistirmos coisas gravadas, tanto na TV como cinema. Ao mesmo tempo, não se trada de um reality show, pois como diz Marcio Doctors em seu texto sobre a exposição, a obra não tem interesse nem “nem na narrativa nem no conteúdo e nem no significado imediato das coisas”. O que mais importa é o processo de passagem da impregnação da retina pela imagem para a memória, processo esse que acontece individualmente, dentro de cada um, de maneira subjetiva.

As imagens dão, intencionalmente ou não – não é esse o ponto – destaque para situações que podem acontecer diariamente na vida das pessoas, mas que passam despercebidas. Olhar, a cada segundo, o ambiente que está à nossa volta pode ser uma ideia a ser absorvida da exposição, dentre várias outras que podem ocorrer a cada um.

O interessante é que como a própria artista está filmando todos os dias, com transmissão ao vivo, cada dia é uma exposição diferente, pois são mostradas imagens novas, de ângulos novos, com novas percepções e influência também do estado psíquico que Laura apresenta.





Alexandre, Gabriel e Nickolas

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Eva Klabin

A Fundação Eva Klabin, conhecida por seu acervo de arte clássica, abriga, desde 2004, o Projeto Respiração. Este, que esta em sua 16ª edição, recebe vários artistas contemporâneos no objetivo de contrastar sua arte com a da casa museu. A exposição de Laura Lima, “Cinema Shadow/Segundo”, esteve exposta em um período de 33 dias, onde 100 horas de filmes foram exibidos ao mesmo tempo em que eram produzidos.


Cada filme teve um período de duração de três horas, e apesar de contarem com roteiros previamente planejados, ganharam autonomia, pois os filmes estavam expostos a o acaso, fator que foi responsável por definir o rumo que os filmes tomaram. Podemos dar como exemplo o dia de nossa visita, onde no filme exposto, o foco sofria mudanças pequenas, o que aconteceu pela falta de manipulação e controle exercido sobre a imagem. Assim, o roteiro ganhou autonomia, como planejado pela artista. O sistema de transmissão de imagens usado por Laura permitiu que a exposição de seus vídeos acontecesse em mais de um lugar quase instantaneamente. Porém, pelo fato de transmissões ao vivo serem mais frágeis, estas estiveram sujeitas a interferências e problemas técnicos.
Marcio Doctors, responsável pela curadoria, afirma que a representação não ilusionista em que Laura trabalha é “a semente que compõem a imagem do mundo para a artista”, e que através dela lhe é permitido uma ação de caráter nômade da imagem, como registrado em seus trabalhos. Ainda nas palavras de Marcio, a artista cria uma coerência de articulações, através da vídeo-arte, capazes de nos colocar frente a frente com o mistério do mundo e então nos indica “eis ai o caos!”.
A ideia, originada em Londres, tem como princípios básicos sua instantaneidade e, portanto a não edição dos vídeos, cujos conteúdos são abrangentes. Devido à exibição em tempo real, os vídeos de sua exposição nunca são repetidos, o que permite aos visitantes uma experiência totalmente nova a cada visita. Esse conteúdo é pensado a cada dia pela artista, mantendo a novidade e espontaneidade em seu projeto.



Grupo: Fábio Marinho, Gabriela Rozenbaum, Juliana Espinosa, Luana Kozlowski, Vitória Moraes

Histórias Às Margens (MAM)


          No Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro está instalado o conjunto artístico de uma das artistas mais admiráveis da estética nacional: Adriana Varejão. Mar, azulejo, carne, bar, conchas, texturas, cadeiras e bolhas. O agressivo e o poético, o receio e o atraente, a dor e o prazer seduzem e proporcionam uma aventura imaginária aos visitantes da mostra.

SOBRE MARES E AZULEJOS

          As 40 obras produzidas ao longo dos últimos 21 anos mesclam elementos de mundos, aparentemente, inconciliáveis: há um quê de mitologia grega em Milagre dos Peixes, um tom boêmio em Tea and Tiles ll, nacionalidade em Reflexo de sonhos no sonho de outro espelho e Panorama da Guanabara, uma pitada de ilusão de ótica em Parede, frescor em Margem, sensação de umidade em Green Sauna, barroco em Paisagens e vários outros universos possíveis que o observador puder associar.




          Por diversas vezes, os seguranças do local chamavam a atenção de um ou outro apreciador mais afoito, que tentava ao máximo absorver cada detalhe, cada delicadeza que a obra de Adriana escondia sobre as tintas, carnes, azulejos e conchas um tanto quanto mitológicas. Também, pudera: o trabalho da artista carioca, reconhecidaointernacionalmente, estimula as interpretações singulares, escondidas no íntimo das pessoas. Provoca uma inquietação aliada à curiosidade por explorar a tendência tão humana de rotular uma obra (quando, na verdade, a arte dela é um misto de várias correntes estéticas, filosóficas, literárias e políticas).


Milagre dos Peixes (1991)

          Adriano Pedrosa, curador da exposição, atenta para o fato de, em meio a esse mar de pluralidades, estar sempre presente um elemento comum: o corpo.

“Seja ele rasgado, cortado, dilacerado, esquartejado, em fragmentos, em pedaços. O corpo é revelado enquanto pele e carne da pintura, habitando os interiores da arquitetura e descoberto em suas ruínas.”

          “Prato cheio” para os amantes da arte, Histórias Às Margens estimula o imaginário, provoca reflexões acerca da ordem vigente e ainda é um agrado e tanto para os olhos.
Até dia 10 de março no Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro.

Grupo:
Fabian Falconi
Gabriela Isaias
Laís Januzzi
Mariana Parga
Thiago Patrick


Resenha: A Invenção de Morel


   A invenção de Morel, livro de literatura fantástica latino-americana, foi escrito pelo argentino Adolfo Bioy Casares e publicado originalmente em 1940. A história dá voz a um diário, é contada em primeira pessoa por um venezuelano que, fugindo da justiça, vai habitar uma ilha no Pacífico, tomada por uma epidemia letal e que, apesar das construções misteriosas, era deserta. Um dia, o personagem encontra pessoas na ilha, sem ideia de como elas chegaram lá. Com medo de ser visto, ele se muda para uma área mais baixa do território, mais isolada e, de lá, observa o comportamento dos novos habitantes sem ser notado por eles. Passados alguns dias, o personagem reparou em uma espanhola que ia diariamente no mesmo horário tomar sol perto da praia e por quem ele se apaixonou. Essa paixão fez com que ele tentasse se aproximar dela e do resto do grupo, cuja presença o intrigava muito, mas foi uma tentativa vão. Os turistas não pareciam notá-lo, como se ele não existisse ou fosse invisível.

   Essa constatação levou o personagem a questionar a existência dos novos habitantes: será que eles eram de verdade? Será que eram projeções de pessoas feitas pela  mente solitária dele ou será que ele mesmo estava morto? Enfim, começa a questionar a sua própria sanidade e vida. Nesse ponto, reside um ponto muito interessante do livro: sua subjetividade e consequente abertura para as mais diversas interpretações do enredo. A narração em primeira pessoa permite que a história seja sempre contestada, nunca é possível confirmar que a visão do narrador-personagem é o que realmente aconteceu na ilha. Tudo pode ser mera ilusão da cabeça dele. Enfim, esse mistério é desenvolvido na história que, mais tarde, apresenta ao leitor a justificativa de seu título: a invenção de Morel, uma máquina na ilha que produzia imagens de seres animados, os turistas.

   Então, surge o outro ponto interessante do livro: a questão da imagem. O leitor é levado a pensar sobre os limites entre o real e o virtual. Como o virtual pode afetar efetivamente o real? Como se pode viver no real baseando-se em algo virtual, que não existe objetivamente? Em meio a esse questionamento, é possível envolver o amor. Seria o amor construído pela imagem? O que é a imagem? Se sim, como a imagem do amor se constitui e que maquinação está por trás dela?

   Primeiramente, deve-se ressaltar que o amor é um sentimento e, portanto, totalmente sujeito à subjetividade da pessoa que o sente. As definições de amor são divergentes entre as pessoas, no entanto, é possível dizer que esse sentimento é baseado em uma imagem: a imagem criada do(a) amado(a) que não é composta por características objetivas dele(a), mas sim através da visão “distorcida” pelos sentimentos da pessoa apaixonada, que eleva o(a) outro(a) a um patamar de ideal, de perfeição. Isso pode ser explicado pela intensidade de sentimentos como o amor, que exigem um “distanciamento” da realidade. Amar, deixar-se ser mais irracional e mais propenso à instabilidade emocional só é motivado pela idealização, por uma  visão “distorcida” que não sofra intervenções da fria vida real e da racionalidade. Sendo assim, pode-se considerar que a mente “sob os efeitos do amor” é a maquinação que produz uma imagem, um ideal do amor/do(a) amado(a) que funciona como seu próprio escudo para se manter, contra a objetividade da vida. 

Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto. 

As ordens mínimas do entendimento



Com um “habitat” pouco normal aos olhos leigos, Fernanda Gomes faz a arte se renovar e amostra a quem desconhece a arte uma nova visão: A mente exteriorizada em um ambiente, que com detalhes basicamente não notáveis (O que, de certa forma, explica o nome da exposição). Sua exposição, que acontece na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, pode ser considerada um cúmulo da abstração.

Várias e nenhuma concepção podem ser tiradas das obras, não nomeadas, em cada um dos “cômodos” que no fim de tudo, não passam de cantos da mente de Fernanda, que se mostra razoavelmente vazia, se olhada exteriormente, mas que com uma observação mais atenciosa, é cheio de pequenos detalhes, alguns perturbadores. A ganância, demonstrada com as moedas no canto do primeiro ambiente, a vontade de ser livre, que fica por conta das malas no mesmo local e da sacola plástica no lado de fora da janela. Remorsos enormes, que ficam na interpretação dos fios soltos pelas salas. Porém, nenhuma peça chama atenção tanto quanto a pipa, quase crucificada no barbante, no ambiente que dá vista pro mar.



Como uma metáfora da própria artista, que se mostra perturbada pelas farpas nas suas paredes, a pipa mostra quão presa a uma realidade que não é sua Fernanda Gomes se sente.
Pipas foram feitas para voar. E se destroem quando ficam dentro de caixas. Uma autodestruição que é digna da pena. E de admiração. Fernanda nos expõe seu cérebro, só que cérebros competem aos humanos as mínimas ordens de entendimento possíveis.

Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto. 

Adriana Varejão - Histórias às Margens




A exposição “Adriana Varejão – Histórias às Margens”, no MAM do Rio de Janeiro, pode, num primeiro momento, causar até certo mal estar, pelo menos àquelas pessoas que não estejam acostumadas a frequentar exposições como essa. A artista carioca, que completa 50 anos no ano que vem, apresenta cerca de 40 trabalhos, muitos deles óleo e gesso sobre tela, que foram produzidos nos últimos 21 anos. Por isso, Histórias às Margens é chamada por ela e pelo curador Adriano Pedrosa de uma panorâmica de sua obra, não de retrospectiva, pois o último termo remete muito ao passado, e a exposição inclui obras atuais.

O mal estar, falado acima, é decorrente das entranhas introduzidas pela artista em muitos de seus trabalhos. Com incisões nas telas, ela evidencia entranhas de seres vivos, talvez querendo mostrar a vivacidade de tal imagem, ou a interferência causada no meio pelo homem. O fato é que a imagem é impactante. Outras obras mostram corpos descompostos ou esquartejados.

Varejão também usa a questão da tridimensionalidade, tanto nas obras com as incisões quanto em outras. Em umas ela utiliza sobreposições de telas para formar uma imagem, em outras, objetos como garrafas são parte da tela, como se tivessem inseridas nela. Em outras, parece que a tela é descolada e se insere em objetos do cotidiano, como cadeiras e copos. Grande parte dos trabalhos expostos apresenta azulejos, referências à era colonial do Brasil, uso de cartografia e referências à religiosidade.



A exposição de Adriana, uma das artistas brasileiras mais bem sucedidas e reconhecidas internacionalmente, conta, ainda, com obras inéditas no Brasil, e com outras feitas especialmente para a exposição. Com patrocínio do Bradesco Seguros e da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a panorâmica segue até o dia 17 de março de 2013 no MAM.




Alexandre, Gabriel e Nickolas

A invenção de Morel



Em A invenção de Morel Adolfo Bioy trata do problema entre o real e sua representação, uma antiga questão filosófica que é objeto de estudo.

No livro a vida de fugitivo do personagem principal é relatada; condenado a prisão perpétua ele foge de sua terra natal a fim de escapar da prisão. Em suas andanças, encontra um vendedor de tapetes que o encoraja a fugir para uma ilha desconhecida, “foco de uma moléstia”, e por isso mesmo desabitada. Sem muitas opções o foragido parte para a tal ilha que então passa a ser cenário da história.
Depois de uma turbulenta viagem o protagonista chega em condições precárias a seu destino. Não demora muito e ele descobre não estar só: há moradores no chamado museu da ilha. Surpreso, o em um primeiro momento, ele os toma por alucinações causadas pelo forte calor da ilha, mas chega à conclusão de que “são homens de verdade, ao menos tão de verdade quanto eu”. É interessante observar tal declaração, aqui nosso personagem principal identifica-os como seus semelhantes e logo os teme pela possibilidade de denunciá-lo.
Solitário e em situação precária ele se refugia no museu, onde faz descobertas sobre o lugar e seus moradores. Entre os quais ele descobre uma mulher a observar o pôr do sol que lhe desperta o interesse e aos poucos a paixão. Vê-la passa a ser imprescindível e ele, que antes vivia a esconder-se, passa a planejar uma aproximação, mas todas as suas tentativas falham miseravelmente por um simples fato: ela o ignora, sequer toma conhecimento de sua presença. Ainda assim ele continua a investir numa possível interação, mas descobre que a mulher já possui companhia, um tenista barbudo. Ouvindo uma de suas conversas descobre-lhes o nome: o do tenista, Morel; o da mulher, Faustine. E mais, agora o fugitivo passa também a observar mais de perto os outros moradores da ilha, porém todos parecem estar alheios a sua presença. É aqui que ele passa a questionar o porquê de tanta indiferença, terá ele contraído a famosa peste e tudo o mais não passou de ilusão? Estará ele invisível por conta da mesma? Estarão os intrusos mortos? Estará ele próprio morto? O que é real e o que não é passam agora a confundir-se.

Entre uma conversa e outra percebe que Morel planeja algo e que está preste a contar aos seus amigos. Temendo que seja um plano para capturá-lo decide arriscar sua liberdade para descobrir do que se trata. Surpreendentemente Morel não planejou capturá-lo, mas sim a imagem de seus amigos para de tal forma eternizá-los. Há então um misto de indignação, horror, revolta e incompreensão e Morel prossegue a explicar sua invenção... um álbum de memórias vivas... um sistema de reprodução da vida que capta momentos específicos, inclusive este, e os repete consecutivamente.

O fugitivo está novamente só; as imagens não vivem e talvez nem as pessoas as quais elas pertencem. Faustine provavelmente não vive e se vive está fora de alcance. O que resta ao apaixonado protagonista é a imagem de sua amada. Seu amor desde o início foi deu-se pela representação de quem ele imaginava ser real, não diz respeito a quem ela realmente pertence. Sendo assim, opta por gravar sua própria imagem assim juntando-se a Faustine pela eternidade.




















GRUPO – Clarice Ferro, Débora Polistchuck, Natascha Oliveira, Gabriela Oliveira, Bruna Câmara - EC2