quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Resenha: A Invenção de Morel


   A invenção de Morel, livro de literatura fantástica latino-americana, foi escrito pelo argentino Adolfo Bioy Casares e publicado originalmente em 1940. A história dá voz a um diário, é contada em primeira pessoa por um venezuelano que, fugindo da justiça, vai habitar uma ilha no Pacífico, tomada por uma epidemia letal e que, apesar das construções misteriosas, era deserta. Um dia, o personagem encontra pessoas na ilha, sem ideia de como elas chegaram lá. Com medo de ser visto, ele se muda para uma área mais baixa do território, mais isolada e, de lá, observa o comportamento dos novos habitantes sem ser notado por eles. Passados alguns dias, o personagem reparou em uma espanhola que ia diariamente no mesmo horário tomar sol perto da praia e por quem ele se apaixonou. Essa paixão fez com que ele tentasse se aproximar dela e do resto do grupo, cuja presença o intrigava muito, mas foi uma tentativa vão. Os turistas não pareciam notá-lo, como se ele não existisse ou fosse invisível.

   Essa constatação levou o personagem a questionar a existência dos novos habitantes: será que eles eram de verdade? Será que eram projeções de pessoas feitas pela  mente solitária dele ou será que ele mesmo estava morto? Enfim, começa a questionar a sua própria sanidade e vida. Nesse ponto, reside um ponto muito interessante do livro: sua subjetividade e consequente abertura para as mais diversas interpretações do enredo. A narração em primeira pessoa permite que a história seja sempre contestada, nunca é possível confirmar que a visão do narrador-personagem é o que realmente aconteceu na ilha. Tudo pode ser mera ilusão da cabeça dele. Enfim, esse mistério é desenvolvido na história que, mais tarde, apresenta ao leitor a justificativa de seu título: a invenção de Morel, uma máquina na ilha que produzia imagens de seres animados, os turistas.

   Então, surge o outro ponto interessante do livro: a questão da imagem. O leitor é levado a pensar sobre os limites entre o real e o virtual. Como o virtual pode afetar efetivamente o real? Como se pode viver no real baseando-se em algo virtual, que não existe objetivamente? Em meio a esse questionamento, é possível envolver o amor. Seria o amor construído pela imagem? O que é a imagem? Se sim, como a imagem do amor se constitui e que maquinação está por trás dela?

   Primeiramente, deve-se ressaltar que o amor é um sentimento e, portanto, totalmente sujeito à subjetividade da pessoa que o sente. As definições de amor são divergentes entre as pessoas, no entanto, é possível dizer que esse sentimento é baseado em uma imagem: a imagem criada do(a) amado(a) que não é composta por características objetivas dele(a), mas sim através da visão “distorcida” pelos sentimentos da pessoa apaixonada, que eleva o(a) outro(a) a um patamar de ideal, de perfeição. Isso pode ser explicado pela intensidade de sentimentos como o amor, que exigem um “distanciamento” da realidade. Amar, deixar-se ser mais irracional e mais propenso à instabilidade emocional só é motivado pela idealização, por uma  visão “distorcida” que não sofra intervenções da fria vida real e da racionalidade. Sendo assim, pode-se considerar que a mente “sob os efeitos do amor” é a maquinação que produz uma imagem, um ideal do amor/do(a) amado(a) que funciona como seu próprio escudo para se manter, contra a objetividade da vida. 

Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto. 

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