A invenção de Morel, livro de
literatura fantástica latino-americana, foi escrito pelo argentino Adolfo Bioy
Casares e publicado originalmente em 1940. A história dá voz a um diário, é
contada em primeira pessoa por um venezuelano que, fugindo da justiça, vai
habitar uma ilha no Pacífico, tomada por uma epidemia letal e que, apesar das
construções misteriosas, era deserta. Um dia, o personagem encontra pessoas na
ilha, sem ideia de como elas chegaram lá. Com medo de ser visto, ele se muda
para uma área mais baixa do território, mais isolada e, de lá, observa o comportamento
dos novos habitantes sem ser notado por eles. Passados alguns dias, o
personagem reparou em uma espanhola que ia diariamente no mesmo horário tomar
sol perto da praia e por quem ele se apaixonou. Essa paixão fez com que ele
tentasse se aproximar dela e do resto do grupo, cuja presença o intrigava
muito, mas foi uma tentativa vão. Os turistas não pareciam notá-lo, como se ele
não existisse ou fosse invisível.
Essa constatação levou o
personagem a questionar a existência dos novos habitantes: será que eles eram
de verdade? Será que eram projeções de pessoas feitas pela mente solitária dele ou será que ele mesmo
estava morto? Enfim, começa a questionar a sua própria sanidade e vida. Nesse
ponto, reside um ponto muito interessante do livro: sua subjetividade e
consequente abertura para as mais diversas interpretações do enredo. A narração
em primeira pessoa permite que a história seja sempre contestada, nunca é
possível confirmar que a visão do narrador-personagem é o que realmente
aconteceu na ilha. Tudo pode ser mera ilusão da cabeça dele. Enfim, esse
mistério é desenvolvido na história que, mais tarde, apresenta ao leitor a
justificativa de seu título: a invenção de Morel, uma máquina na ilha que produzia
imagens de seres animados, os turistas.
Então, surge o outro ponto
interessante do livro: a questão da imagem. O leitor é levado a pensar sobre os
limites entre o real e o virtual. Como o virtual pode afetar efetivamente o real?
Como se pode viver no real baseando-se em algo virtual, que não existe
objetivamente? Em meio a esse questionamento, é possível envolver o amor. Seria
o amor construído pela imagem? O que é a imagem? Se sim, como a imagem do amor
se constitui e que maquinação está por trás dela?
Primeiramente, deve-se
ressaltar que o amor é um sentimento e, portanto, totalmente sujeito à
subjetividade da pessoa que o sente. As definições de amor são divergentes
entre as pessoas, no entanto, é possível dizer que esse sentimento é baseado em
uma imagem: a imagem criada do(a) amado(a) que não é composta por
características objetivas dele(a), mas sim através da visão “distorcida” pelos
sentimentos da pessoa apaixonada, que eleva o(a) outro(a) a um patamar de
ideal, de perfeição. Isso pode ser explicado pela intensidade de sentimentos
como o amor, que exigem um “distanciamento” da realidade. Amar, deixar-se ser
mais irracional e mais propenso à instabilidade emocional só é motivado pela
idealização, por uma visão “distorcida”
que não sofra intervenções da fria vida real e da racionalidade. Sendo assim,
pode-se considerar que a mente “sob os efeitos do amor” é a maquinação que
produz uma imagem, um ideal do amor/do(a) amado(a) que funciona como seu próprio
escudo para se manter, contra a objetividade da vida.
Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto.
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