sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Fortuna: O Poder é Presente – William Kentridge

A exposição “Fortuna”, do artista William Kentridge, conta 38 desenhos, 27 filmes e animações, 184 gravuras e 10 esculturas, espalhadas pelas salas da casa do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro. Segundo o artista Carlito Carvalhosa, a relação estabelecida entre as obras de Kentridge e a casa onde estão sendo expostas é muito interessante pelo fato de o Instituto não ser um museu tão “‘neutro’, pois o trabalho lida com memória, com a resistência das coisas (o desenho que vai sendo apagado e refeito, o uso intencional de tecnologias antigas etc.). A casa, transformada em instituto, dialoga com isso e abriga o universo dele de forma magnífica”.

Além da característica de expor seu processo criativo nas obras, o que de certa forma aproxima o expectador leigo do mundo das artes, em todas as obras da exposição podemos perceber que o artista aborda as ralações de poder de sua sociedade. Isso pode ser explicado pelo fato de William Kentridge (28 de abril de 1955) ser sul-africano, onde o regime do Apartheid marcou profundamente toda a população, mesmo as pessoas não contemporâneas a ele. Kentridge sempre apresenta um poder absoluto, opressor, e, em contrapartida, grandes massas sendo manipuladas. Na obra Procissão de Sombras (Shadow Procession, 1999, filme, 7min) podemos perceber a mesma característica.

Logo no começo do vídeo vemos um personagem que parece ser dominante. Ele se movimenta como que comandando alguma situação, ou uma massa de pessoas, e se diverte com isso, ri como se estivesse brincando com fantoches. Depois aparecem as figuras das outras pessoas. As imagens logo remetem a trabalhadores, mulheres comuns, crianças em situações difíceis, situações cotidianas de uma população trabalhadora, pobre e oprimida. Ao final, podemos perceber que essa mesma população, considerada pelo poder como inferior, é constituída das pessoas que realmente levam a sociedade nas costas, que movimentam o mundo.

Podemos aproximar esse filme ao mito da Caverna de Platão. As pessoas estão no mundo das sombras. Todas elas andam na mesma direção; pelo ritmo dos movimentos, passam a sensação de seguirem sempre a mesma rotina; parecem estar subjulgadas a uma força maior, que as impede de mudar o caminho; o homem que aparece no começo representa o manipulador dessas pessoas acorrentadas à ignorância.
A exposição segue na capital carioca até o dia 17 de fevereiro. Depois é a vez da Fundação Iberê Camargo recebê-la de 7 de março a 26 de maio de 2013, em Porto Alegre. Entre 29 de agosto e 17 e novembro também de 2013 as obras estarão na Pinacoteca do estado de São Paulo. A parceria entre as três instituições viabilizou a vinda dessa mostra concebida especialmente para o Brasil.

Alexandre, Gabriel e Nickolas



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