William
Kentridge é um renomado artista sul-africano e está expondo pela primeira vez
na América do Sul. A mostra “Fortuna”, atualmente no Instituto Moreira Salles
do Rio de Janeiro, reúne um acervo recente (produzido durante a última década)
e dá destaque para o processo de criação do autor e as técnicas por ele
empregadas.

Seu
trabalho é composto principalmente por desenhos a carvão, com os quais
Kentridge explora os conceitos de transformação e movimento através de curtas
de animação e instalações. As animações do artista apresentam traço e transição
despreocupados, mas ainda assim, são de forte expressividade, mas também trazem
o espectador para além da temática, se utilizando de recursos como o uso de
sombras ao fundo e na frente das projeções (Kentridge põe a silhueta real de um
gato a passear por entre os frames), fazendo referência ao antigo teatro de sombras.
As
instalações, por sua vez, são voltadas para o cinema em sua estrutura,
incluindo os princípios do cinema de três dimensões, do uso de espelhos na
reprodução da imagem, da cronofotografia e afins.

Embora
seja contemporâneo, suas obras transportam o espectador para o ambiente sombrio
da Primeira Revolução Industrial, abordando a miséria, exploração, desigualdade
social e segregação racial de seu país de origem. Há muita referência a
maquinarias e ao cinema antigo, além da presença forte da sexualidade, que
evidencia a ausência de autocensura do artista em seu trabalho. As imagens são
predominantemente em preto-e-branco – apenas detalhes em azul e vermelho, empregados
justificadamente para diferenciar e possivelmente destacar conceitos como água,
sangue, sons, etc.
O
viés político, no entanto, pode ser dito parcialmente abafado devido ao recorte
da mostra, que dá enfoque maior à construção estética do artista e suas
referências e paixões do que à denúncia de seus trabalhos.
Por Fábio Marinho, Gabriela Rozenbaum, Juliana Espinosa,
Luana Kozlowzki e Vitória Moraes
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