O Rio de Janeiro receberá até dezembro, no espaço Oi Futuro
Flamengo, uma exposição que propõe experiências com os "gestos" em
diversas representações. A mostra é a segunda edição do Trasperformance, que,
em dezembro 2011, com curadoria de Lilian Amaral, ocupou o Oi Futuro em
Ipanema e as ruas do bairro com dezenas de apresentações durante quatro
dias. Desta vez, além de ser ampliado para três meses, o Transperformance
2 se desdobrará em dois segmentos: o primeiro, com a ocupação de todo o
centro cultural do Flamengo, envolvendo obras diversas, incluindo vídeos e
instalações sonoras e, o segundo, envolvendo performances, ações e
instalações sonoras que acontecerão tanto no centro cultural quanto nas ruas.
"Transperformance 2 – Inventário dos Gestos" é
composta por mais de 40 obras, provenientes de artistas brasileiros e
estrangeiros.São artistas visuais, músicos, poetas, atores, dançarinos que em
seus trabalhos os gestos revelam certa forma de estar no mundo, mas também de
tensioná-lo e abri-lo a outros modos de existência. Obras que interrogam a vida
como potência que excede as formas, as significações e os atos, ao mesmo tempo
que friccionam os poderes que a moldam. Obras que investem na intensidade tanto
dos grandes quanto dos pequenos gestos, na força dos gestos sem finalidade e
improdutivos. Mas, sobretudo, gestos que perturbam e repensam, de modo
totalmente novo, as relações entre fins e meios, possível e impossível,
potência e ato, atividade e passividade, doação e recepção, uso e troca,
finalidade e gasto infinito.Para acomodar todas as estruturas e
videoinstalações, foram liberados os três andares expositivos do prédio.O
evento também vai promover debates com uma programação que reunirá artistas
visuais, poetas e psicanalistas. O projeto prevê, ainda, a publicação de
um livro com imagens dos trabalhos apresentados, ensaio da curadora
e textos resultantes dos debates.
Na primeira parte do acervo, temos ambientes compostos por
projeções de vídeo. Nela, são destacadas duas obras: Olímpia (Chico
Fernandes) e Os sonhos de Corbet (Fernando Baena). Ambas lidam com a
questão da pintura, pois retomam e usam como inspiração as obras de Manet e
Corbet, mediante a ideia de apropriação e coletividade, que tem uma grande
presença na arte contemporânea. A primeira pode ser caracterizada por sua
peculiaridade, uma vez que o expectador interage com a obra. O visitante
senta-se em frente a uma televisão, na qual vê a imagem de uma mulher
"dançando". A obra é constituída por uma imagem pré-filmada e uma ao
vivo, fato que cria essa sensação de interação. O quadro de Manet, no qual a
obra é baseada, foi responsável por um escândalo em sua época. O fato de contar
com a nudez em si não foi o motivo de tanta repercussão, mas sim a mulher que
trazia essa nudez, pois esta não era ideal – como santas que já haviam sido
retratadas –, era real e uma prostituta, portanto considerada indigna de ser
representada de tal forma.
Já a segunda obra, também ligada à questão da cultura, tenta
criar uma composição pictórica que se aproxima da pintura original de Corbet.
No entanto, faz uma intervenção em vídeo, utilizando-se de movimentos, imagens
que se aproximam à estética de um filme. A curadora da mostra, crítica e
pesquisadora Marisa Flórido, foi a responsável por esta ligação entre a arte
clássica e a contemporânea. Relaciona, em uma mesma exposição, os quadros
originais de Corbet e Manet aos artistas de vídeo que hoje incorporam e
transformam. Provavelmente, essa foi sua intenção, ao dispor, lado a lado, as
obras "Olympia" e "Os sonhos de Corbet".


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