Exposição: Fortuna
Embora algumas de suas
obras já tenham enfatizado outras questões como, por exemplo, lembranças de sua
vida familiar ou ficções científicas, as obras de Kentridge estão
freqüentemente ligadas ao contexto sócio-histórico da África do Sul, sua terra
natal, onde pessoas de pele preta sofreram intensamente com as políticas do apartheid. Neste sentido, Kentridge usa
elementos de ligação entre cada transformação cênica da animação para conectar
ponto a ponto os sentidos que permitem refletir acerca daquela realidade,
através de uma interação entre a dimensão política e a dimensão poética.
Autor: William Kentridge
Museu: Instituto Moreira Sales
Museu: Instituto Moreira Sales
Curadoria: Lilian
Tone
William Kentridge
nasceu na África do Sul, em 28 de abril de 1955. Filho de advogados que lutaram ativamente em
favor dos direitos civis na África do Sul, Kentridge concluiu o colegial na
King Edward VII School, em Johanesburgo e, mais tarde, formou-se em Política e
Estudos Africanos, na Universidade de Witwaterstand, alcançando posteriormente
o diploma de Artes Plásticas pela Johanesburg Art Foundation.
Inicialmente almejava
tornar-se ator, mas ele próprio relatou ter descoberto, quando ainda estudava
em uma escola de teatro parisiense, que não possuía talento algum para as artes
dramáticas.
Kentridge, no entanto,
se tornou um artista plástico muito conhecido no universo das artes visuais pelo
fabuloso trabalho que realiza com pinturas, gravuras e animação fílmica. Ele
consegue criar um movimento de criação-contemplação-mudança-reflexão, isto
porque suas obras são baseadas em um estado de constante devir. Suas animações
são trabalhadas a partir de um desenho que serve como a base do universo
animado. Deste desenho, Kentridge introduz rasuras e executa uma refilmagem, o
que serve não apenas para dar vida às animações, como também às mudanças contínuas
que nelas acontecem, fazendo de cada cena, surgir outra nova, completamente
distinta. Com isso, o artista cria a sensação de que a obra de arte está em
constante construção e dela se pode extrair uma incomensurável gama de reflexões.
Embora algumas de suas
obras já tenham enfatizado outras questões como, por exemplo, lembranças de sua
vida familiar ou ficções científicas, as obras de Kentridge estão
freqüentemente ligadas ao contexto sócio-histórico da África do Sul, sua terra
natal, onde pessoas de pele preta sofreram intensamente com as políticas do apartheid. Neste sentido, Kentridge usa
elementos de ligação entre cada transformação cênica da animação para conectar
ponto a ponto os sentidos que permitem refletir acerca daquela realidade,
através de uma interação entre a dimensão política e a dimensão poética.
A exposição intitulada
“Fortuna”, em cartaz no Instituto Moreira Salles desde 24 de outubro de 2012 é
mais uma obra desse respeitado artista focada na realidade sul-africana. Dessa
vez voltada à herança do apartheid e
ao processo de reconciliação no país.
“Fortuna” se situa entre o acaso estatístico e
o controle racional, representando situações que funcionam como uma espécie de
causalidade direcionada.
Fortuna é a primeira grande
exposição individual dedicada a Kentridge na América , tendo sido desenvolvida
com colaboração direta do próprio autor. Inclui cerca de 200 obras que vão
desde desenhos e filmes a objetos e gravuras.
A obra é um rico objeto
de reflexão e conscientização política. Características como essa inclusive
definem o porquê dos vídeos de sua obra, por exemplo, serem apresentados em
museus, ao invés de festivais como o Anima Mundi. O artista consegue com maestria envolver o
lado político e poético a partir da natureza onírica das imagens. A obra possui
tanto uma perspectiva educativa quanto cultural, o que a diferencia da simples
animação de entretenimento; isso corresponde, por exemplo, as propostas de
Institutos artísticos e museus e justifica sua exibição em um local como o
Instituto Moreira Sales, que tem por finalidade exclusiva a promoção e o
desenvolvimento de programas culturais.
Em “Fortuna”, Kentridge
enfatiza o preto e o branco e, em alguns momentos, revela outras cores em
representações aleatórias que içam nossa atenção para importantes fatores
daquele contexto. Exemplo disto pode ser visto nas bandeiras em meio aos
protestos representados, que aparecem sempre na cor vermelha, enfatizando a
perspectiva revolucionária. A obra é acompanhada ainda de uma trilha sonora de
teor dramático que se transforma paralelamente a cada imagem e que agrega um
caráter épico, nos remetendo a uma sensação angustiante que permite uma pequena
proximidade a sensação do sistema opressor do apartheid.
Grupo: Carlos Daniel Luz, Juliana Ferraz e Beatriz Barros


Nenhum comentário:
Postar um comentário