quarta-feira, 28 de novembro de 2012

FORTUNA – o que nem toda herança é




Exposição: Fortuna
Autor: William Kentridge
Museu: Instituto Moreira Sales
Curadoria: Lilian Tone

William Kentridge nasceu na África do Sul, em 28 de abril de 1955.  Filho de advogados que lutaram ativamente em favor dos direitos civis na África do Sul, Kentridge concluiu o colegial na King Edward VII School, em Johanesburgo e, mais tarde, formou-se em Política e Estudos Africanos, na Universidade de Witwaterstand, alcançando posteriormente o diploma de Artes Plásticas pela Johanesburg Art Foundation.
Inicialmente almejava tornar-se ator, mas ele próprio relatou ter descoberto, quando ainda estudava em uma escola de teatro parisiense, que não possuía talento algum para as artes dramáticas.
Kentridge, no entanto, se tornou um artista plástico muito conhecido no universo das artes visuais pelo fabuloso trabalho que realiza com pinturas, gravuras e animação fílmica. Ele consegue criar um movimento de criação-contemplação-mudança-reflexão, isto porque suas obras são baseadas em um estado de constante devir. Suas animações são trabalhadas a partir de um desenho que serve como a base do universo animado. Deste desenho, Kentridge introduz rasuras e executa uma refilmagem, o que serve não apenas para dar vida às animações, como também às mudanças contínuas que nelas acontecem, fazendo de cada cena, surgir outra nova, completamente distinta. Com isso, o artista cria a sensação de que a obra de arte está em constante construção e dela se pode extrair uma incomensurável gama de reflexões.
Embora algumas de suas obras já tenham enfatizado outras questões como, por exemplo, lembranças de sua vida familiar ou ficções científicas, as obras de Kentridge estão freqüentemente ligadas ao contexto sócio-histórico da África do Sul, sua terra natal, onde pessoas de pele preta sofreram intensamente com as políticas do apartheid. Neste sentido, Kentridge usa elementos de ligação entre cada transformação cênica da animação para conectar ponto a ponto os sentidos que permitem refletir acerca daquela realidade, através de uma interação entre a dimensão política e a dimensão poética.
A exposição intitulada “Fortuna”, em cartaz no Instituto Moreira Salles desde 24 de outubro de 2012 é mais uma obra desse respeitado artista focada na realidade sul-africana. Dessa vez voltada à herança do apartheid e ao processo de reconciliação no país.
 “Fortuna” se situa entre o acaso estatístico e o controle racional, representando situações que funcionam como uma espécie de causalidade direcionada.
Fortuna é a primeira grande exposição individual dedicada a Kentridge na América , tendo sido desenvolvida com colaboração direta do próprio autor. Inclui cerca de 200 obras que vão desde desenhos e filmes a objetos e gravuras.
A obra é um rico objeto de reflexão e conscientização política. Características como essa inclusive definem o porquê dos vídeos de sua obra, por exemplo, serem apresentados em museus, ao invés de festivais como o Anima Mundi.  O artista consegue com maestria envolver o lado político e poético a partir da natureza onírica das imagens. A obra possui tanto uma perspectiva educativa quanto cultural, o que a diferencia da simples animação de entretenimento; isso corresponde, por exemplo, as propostas de Institutos artísticos e museus e justifica sua exibição em um local como o Instituto Moreira Sales, que tem por finalidade exclusiva a promoção e o desenvolvimento de programas culturais.
Em “Fortuna”, Kentridge enfatiza o preto e o branco e, em alguns momentos, revela outras cores em representações aleatórias que içam nossa atenção para importantes fatores daquele contexto. Exemplo disto pode ser visto nas bandeiras em meio aos protestos representados, que aparecem sempre na cor vermelha, enfatizando a perspectiva revolucionária. A obra é acompanhada ainda de uma trilha sonora de teor dramático que se transforma paralelamente a cada imagem e que agrega um caráter épico, nos remetendo a uma sensação angustiante que permite uma pequena proximidade a sensação do sistema opressor do apartheid.

Grupo: Carlos Daniel Luz, Juliana Ferraz e Beatriz Barros 

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