quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A invenção de Morel


RESENHA CRÍTICA:

CASARES, Adolfo Bioy - A invenção de Morel; com prólogode Jorge Luís Borges; tradução de Vera Neves Pedroso. – Rio de Janeiro: Rocco, 1986

Resumo

            O livro a “Invenção de Morel” conta a história de um homem, procurado da justiça, que é informado sobre a existência de uma ilha inabitada e temida, por ser foco de uma enfermidade misteriosa. Certo de que nada poderia piorar sua situação, refugia-se nessa ilha; confrontar uma peste que "mata de fora para dentro", portanto, pareceu-lhe uma boa saída.  Sobrevivendo escondido, sempre a espreita, este homem depara-se com construções humanas, aparentemente, abandonadas.
            Entretanto, em questão de dias, através de uma aparição inexplicável, nota a presença de outras pessoas na ilha, e as toma por veranistas. Entre a curiosidade de observá-las e o medo de ser preso, ou de que descobrissem seu passado, passa a viver nos baixios da ilha, vigiando melhor a vida dos misteriosos indivíduos. Observava, sobretudo, Faustine e com o tempo, apaixonou-se por ela. Esta paixão foi um dos motivadores que fizeram com que o fugitivo arriscasse contato. Em sua primeira tentativa, pensou que ela o estivesse ignorando, depois percebeu, que na verdade, não era visto. 
            Logo, a ideia que o narrador-personagem começa a ter em relação àqueles habitantes fica cada vez mais obscura. Nesse ponto da narrativa, portanto, é introduzida a condição da dúvida. O personagem começa a reparar que existia uma repetição cíclica das conversas entre os “veranistas”, os gestos e atos eram os mesmos que os ocorridos em dias anteriores. O autor, enfim, faz-nos questionar: estavam mortos e eram espíritos? São delírios do personagem já doente pela solidão ou será que ele também está morto?
            No decorrer da trama, que a grande descoberta é feita. O que acontecia na ilha eram experimentos científicos, feitos pelo doutor Morel, um dos turistas. Tais experimentos buscavam captar a própria vida e eternizá-la por meio das imagens e sons sincronizados, de modo que as repetições das ações dos turistas eram projeções registradas em sua invenção, máquina. Com esta descoberta, o narrador-personagem, atormentado pela alusão de uma paixão, faz com que o romance ganhe ares trágicos e incontornáveis. Ele se vê colocado diante de questões morais e filosóficas que terão peso fundamental no desfecho da sua estada na ilha.
Critica
            A perspectiva criativa da obra de Casares decorre, sobretudo, por ela ser contada em primeira pessoa, como uma espécie de diário. Visto isso, vale ressaltar que é justamente por utilizar um narrador-personagem, que o autor, a fim de tornar a história mais intrigante, faz com que as informações possam ou não ser classificadas como verdadeiras. Além disso, em sua obra, Casares bagunça as dimensões espaciais e temporais, mistura os conceitos de real e irreal.
            Pode-se dizer que, nesse livro, o seio da história, ou seja, todo seu processo de produção trabalha a questão da imagem. Por um lado, mais facilmente percebido, pode-se dizer que a imagem está associada ao tema do livro, à invenção de Morel. Por outro, podemos associar essa questão à linguagem, a estética, ao caráter do texto. Este último, que por ser altamente descritivo permite a imersão do leitor na história, fazendo com que ele tenha em mente, de maneira bem nítida, imagens do espaço, dos personagens.
            Devido a esse aspecto do texto, e a notável proximidade dele com a linguagem cinematográfica, Casares permite que o leitor sinta-se como um espectador diante de uma tela de cinema, ou como um voyeur diante das ações do fugitivo. Além disso, Casares, através da construção das imagens no texto, faz o leitor duvidar do que realmente se apresenta aos seus olhos. Mesmo se tratando de uma história ficcional, ela envolve o espectador, seduzindo-o, e o enganando, diversas vezes.
            O outro lado, já citado acima, que nos permite relacionar a questão da imagem com o texto é a invenção de Morel. Sua criação, como explicado no resumo, “busca captar a própria vida e eternizá-la por meio das imagens”, ou seja, nos faz questionar os limites entre o real e o virtual. O autor, portanto, relata o desejo de perpetuar a existência humana, abordando o tema da imortalidade. Sua invenção permite que a imagem transmita sentimentos e emoção, seja vista como algo vivo.
            É, portanto, a partir dessa perspectiva que Faustine, apesar de ser um “fantasma” é amada, pelo fugitivo, como uma mulher. É, justamente, por o ambiente ser tido como uma realidade pelo personagem-narrador, que ele se apaixona e, enfim, busca registrar sua imagem, garantindo “uma morte em vida”. Casare, portanto, critica a questão das novas tecnologias, o poder das representações e reproduções visuais, que substituem a presença humana e a realidade.

           
 Grupo: Beatriz Barros, Daniel Luz e Juliana Ferraz

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