RESENHA CRÍTICA:
CASARES, Adolfo Bioy - A invenção de Morel; com prólogode Jorge Luís
Borges; tradução de Vera Neves Pedroso. – Rio de Janeiro: Rocco, 1986
Resumo
O livro a “Invenção de Morel” conta
a história de um homem, procurado da justiça, que é informado sobre a
existência de uma ilha inabitada e temida, por ser foco de uma enfermidade
misteriosa. Certo de que nada poderia piorar sua situação, refugia-se nessa
ilha; confrontar uma peste que "mata de fora para dentro", portanto,
pareceu-lhe uma boa saída. Sobrevivendo
escondido, sempre a espreita, este homem depara-se com construções humanas,
aparentemente, abandonadas.
Entretanto, em questão de dias,
através de uma aparição inexplicável, nota a presença de outras pessoas na ilha,
e as toma por veranistas. Entre a curiosidade de observá-las e o medo de ser
preso, ou de que descobrissem seu passado, passa a viver nos baixios da ilha,
vigiando melhor a vida dos misteriosos indivíduos. Observava, sobretudo,
Faustine e com o tempo, apaixonou-se por ela. Esta paixão foi um dos
motivadores que fizeram com que o fugitivo arriscasse contato. Em sua primeira
tentativa, pensou que ela o estivesse ignorando, depois percebeu, que na
verdade, não era visto.
Logo, a ideia que o narrador-personagem
começa a ter em relação àqueles habitantes fica cada vez mais obscura. Nesse
ponto da narrativa, portanto, é introduzida a condição da dúvida. O personagem começa
a reparar que existia uma repetição cíclica das conversas entre os
“veranistas”, os gestos e atos eram os mesmos que os ocorridos em dias
anteriores. O autor, enfim, faz-nos questionar: estavam mortos e eram
espíritos? São delírios do personagem já doente pela solidão ou será que ele
também está morto?
No decorrer da trama, que a grande
descoberta é feita. O que acontecia na ilha eram experimentos científicos,
feitos pelo doutor Morel, um dos turistas. Tais experimentos buscavam captar a
própria vida e eternizá-la por meio das imagens e sons sincronizados, de modo
que as repetições das ações dos turistas eram projeções registradas em sua
invenção, máquina. Com esta descoberta, o narrador-personagem, atormentado pela
alusão de uma paixão, faz com que o romance ganhe ares trágicos e
incontornáveis. Ele se vê colocado diante de questões morais e filosóficas que terão
peso fundamental no desfecho da sua estada na ilha.
Critica
A
perspectiva criativa da obra de Casares decorre, sobretudo, por ela ser contada
em primeira pessoa, como uma espécie de diário. Visto isso, vale ressaltar que
é justamente por utilizar um narrador-personagem, que o autor, a fim de
tornar a história mais intrigante, faz com que as
informações possam ou não ser classificadas como verdadeiras. Além disso, em
sua obra, Casares bagunça as dimensões espaciais e temporais, mistura os
conceitos de real e irreal.
Pode-se
dizer que, nesse livro, o seio da história, ou seja, todo seu processo de
produção trabalha a questão da imagem. Por um lado, mais facilmente
percebido, pode-se dizer que a imagem está associada ao tema do livro, à
invenção de Morel. Por outro, podemos associar essa questão à linguagem, a
estética, ao caráter do texto. Este último, que por ser altamente descritivo
permite a imersão do leitor na história, fazendo com que ele tenha em mente, de
maneira bem nítida, imagens do espaço, dos personagens.
Devido a esse aspecto do texto, e a
notável proximidade dele com a linguagem cinematográfica, Casares permite que o
leitor sinta-se como um espectador diante de uma tela de cinema, ou como um
voyeur diante das ações do fugitivo. Além disso, Casares, através da construção
das imagens no texto, faz o leitor duvidar do que realmente se apresenta aos
seus olhos. Mesmo se tratando de uma história ficcional, ela envolve o
espectador, seduzindo-o, e o enganando, diversas vezes.
O outro lado, já citado acima, que
nos permite relacionar a questão da imagem com o texto é a invenção de Morel.
Sua criação, como explicado no resumo, “busca captar a própria vida e
eternizá-la por meio das imagens”, ou seja, nos faz questionar os limites entre
o real e o virtual. O autor, portanto, relata o desejo de perpetuar a
existência humana, abordando o tema da imortalidade. Sua invenção permite que a
imagem transmita sentimentos e emoção, seja vista como algo vivo.
É, portanto, a partir dessa
perspectiva que Faustine, apesar de ser um “fantasma” é amada, pelo fugitivo,
como uma mulher. É, justamente, por o ambiente ser tido como uma realidade pelo
personagem-narrador, que ele se apaixona e, enfim, busca registrar sua imagem,
garantindo “uma morte em vida”. Casare, portanto, critica
a questão das novas tecnologias, o poder das representações e
reproduções visuais, que substituem a presença humana e a realidade.
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