FUDAÇÃO EVA KABLIN
PROJETO RESPIRAÇÃO (16ª EDIÇÃO)
Exposição: Cinema Shadow Segundo
Artista: Laula Lima
Curadoria: Marcio Doctors
A artista Laura Lima nasceu na cidade mineira de Governador Valadares, em 1971. Formou-se em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e frenquentou, entre os anos de 1991 e 1994, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Atualmente Laura vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro.
Seu trabalho mais
conhecido foi “Homem = carne / Mulher = carne”, onde ela se apropria de uma
expressão crua e pura para nos desvelar o mundo, fugindo de qualquer forma de
mimetismo. Esta é, aliás, uma forte característica da artista, por vezes
descrita como uma artista que não nos quer enganar, que põe tudo à mostra sem
nada esconder, como o mágico nu.
O Projeto Respiração,
em sua 16ª edição, traz a nova obra de Laura Lima “Cinema Shadow Segundo” na
Fundação Eva Kablin, sob curadoria de Marcio Doctors. A artista que já havia se
aproximado do cinema e do vídeo com a exposição “Pés de páginas”, mais uma vez
aqui substitui a expressão ilusória e mimética por uma expressão coerente e
articulada, capaz de nos colocar frente aos mistérios do mundo, por meio da
vídeo-arte.
O Mais incrível,
pode-se dizer, é que tal fuga do mimetismo não se dá através de um roteiro. A
representação é pensada a cada dia pela artista, sendo sempre refletida a
partir do plano no qual parou no dia anterior e sendo transmitido ao vivo, no
tempo presente e real. Ou seja, a cada dia é apresentada uma nova situação, o
que permite a qualquer pessoa visitar por várias vezes a exposição e a cada dia
se deparar com diferentes sensações.
Cinema
Shadow – Segundo, de certa forma, também serve como
construção de sentidos para o observador, já que as imagens trabalhadas pela
artista são metamórficas, sem substância ou forma definitiva, elas se fazem e se
desfazem na medida em que a situação acontece.
A visita à exposição nos
impôs uma serie de questionamentos tanto acerca do universo que construímos,
quanto acerca do universo que nos constrói. O vídeo exibido naquele dia
iniciava na imensidão pura e gentil do branco e na abertura da câmera
clarificava sua sinuosidade nos permitindo construções indiciais de cortinas. A
imagem vinha acompanhada de sons naturais revelando o vento, riachos, pássaros,
grilos e o ranger de madeira, mas em certo momento a imensidão leve e pura do
branco fora irrompida por um vulto indecifrável, um borrão surgido do extra-plano,
e os sons naturais passaram a dividir o espaço sonoro com sons como de respiração,
bem como com outros sons reconhecidamente pertencentes às tecnologias contemporâneas
e à sociedade urbanizada.
O borrão ia ganhando formas de uma pessoa ao
passo em que a imagem embaçada tornava-se nítida. Em certo momento, passamos a ver
um observador do extra-campo em uma fenda aberta entre as cortinas brancas, que
revelava o verde da natureza transmitindo profunda tranqüilidade. Tal
tranqüilidade só era interrompida quando ocasionalmente se ouvia os sons
tecnológicos que, embora com intervalos longos, surgiam repentinamente causando
uma espécie de ruptura.
A reflexão possível é polissêmica, os sentidos
que se podem alcançar subjetivamente são inúmeros e uma coisa é certa: mesmo
levando em conta que a cada dia algo diferente é apresentado, não resta dúvida
que Laura Lima consegue de sua maneira pura e crua nos colocar diante dos
mistérios do mundo.
Grupo: Daniel Luz, Beatriz Barros e Juliana Ferraz
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