terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cinema Shadow Segundo


FUDAÇÃO EVA KABLIN
PROJETO RESPIRAÇÃO (16ª EDIÇÃO)
Exposição: Cinema Shadow Segundo
Artista: Laula Lima
Curadoria: Marcio Doctors

            A artista Laura Lima nasceu na cidade mineira de Governador Valadares, em 1971. Formou-se em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e frenquentou, entre os anos de 1991 e 1994, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Atualmente Laura vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro.
Seu trabalho mais conhecido foi “Homem = carne / Mulher = carne”, onde ela se apropria de uma expressão crua e pura para nos desvelar o mundo, fugindo de qualquer forma de mimetismo. Esta é, aliás, uma forte característica da artista, por vezes descrita como uma artista que não nos quer enganar, que põe tudo à mostra sem nada esconder, como o mágico nu.
O Projeto Respiração, em sua 16ª edição, traz a nova obra de Laura Lima “Cinema Shadow Segundo” na Fundação Eva Kablin, sob curadoria de Marcio Doctors. A artista que já havia se aproximado do cinema e do vídeo com a exposição “Pés de páginas”, mais uma vez aqui substitui a expressão ilusória e mimética por uma expressão coerente e articulada, capaz de nos colocar frente aos mistérios do mundo, por meio da vídeo-arte.
O Mais incrível, pode-se dizer, é que tal fuga do mimetismo não se dá através de um roteiro. A representação é pensada a cada dia pela artista, sendo sempre refletida a partir do plano no qual parou no dia anterior e sendo transmitido ao vivo, no tempo presente e real. Ou seja, a cada dia é apresentada uma nova situação, o que permite a qualquer pessoa visitar por várias vezes a exposição e a cada dia se deparar com diferentes sensações.
Cinema Shadow – Segundo, de certa forma, também serve como construção de sentidos para o observador, já que as imagens trabalhadas pela artista são metamórficas, sem substância ou forma definitiva, elas se fazem e se desfazem na medida em que a situação acontece.
A visita à exposição nos impôs uma serie de questionamentos tanto acerca do universo que construímos, quanto acerca do universo que nos constrói. O vídeo exibido naquele dia iniciava na imensidão pura e gentil do branco e na abertura da câmera clarificava sua sinuosidade nos permitindo construções indiciais de cortinas. A imagem vinha acompanhada de sons naturais revelando o vento, riachos, pássaros, grilos e o ranger de madeira, mas em certo momento a imensidão leve e pura do branco fora irrompida por um vulto indecifrável, um borrão surgido do extra-plano, e os sons naturais passaram a dividir o espaço sonoro com sons como de respiração, bem como com outros sons reconhecidamente pertencentes às tecnologias contemporâneas e à sociedade urbanizada.
 O borrão ia ganhando formas de uma pessoa ao passo em que a imagem embaçada tornava-se nítida. Em certo momento, passamos a ver um observador do extra-campo em uma fenda aberta entre as cortinas brancas, que revelava o verde da natureza transmitindo profunda tranqüilidade. Tal tranqüilidade só era interrompida quando ocasionalmente se ouvia os sons tecnológicos que, embora com intervalos longos, surgiam repentinamente causando uma espécie de ruptura.
A reflexão possível é polissêmica, os sentidos que se podem alcançar subjetivamente são inúmeros e uma coisa é certa: mesmo levando em conta que a cada dia algo diferente é apresentado, não resta dúvida que Laura Lima consegue de sua maneira pura e crua nos colocar diante dos mistérios do mundo. 

Grupo: Daniel Luz, Beatriz Barros e Juliana Ferraz

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