quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Fortuna parte 2


Exposição: Fortuna (William Kentridge)
Local: Instituto Moreira Sales
Curador (a):

De volta ao Instituto Moreira Sales e à exposição Fortuna de William Kentridge, pudemos conhecer uma parte importante da obra do artista que não havia sido apreciada durante a primeira visita.
Na Galeria do instituto está exposto um dos mais importantes trabalhos de William Kentridge, pelo qual o mesmo passou a ser reconhecido e ganhou prestígio internacional. Drawings for Projection (desenhos para projeção) mostra uma série de curtas do artista, cuja produção foi iniciada em 1989 e o último vídeo finalizado no ano passado.
Essa série é, segundo o próprio Kentridge, o alicerce da sua produção. Após apreciá-la, torna-se mais fácil compreender os diálogos que os desenhos e os filmes mantêm. Grande parte dessa série está focada na forma e no fazer, mostrando, através da desconstrução, como a obra fora construída. Ademais é possível encontrar os mesmos elementos materiais em diferentes vídeos, o que deixa claro a ligação que os vídeos mantêm entre si.
Entre os vídeos expostos, um deles, em especial, atrai muita atenção. Viagem á Lua (2002) ganhou muita visibilidade desde a primeira exposição de Kentridge, evidenciando uma ligação de seu trabalho com George Meliés. O intrigante vídeo, que contou com a participação especial da esposa de Kentridge, permite diversas leituras em torno dele a partir da singularidade do observador. A referida obra vai do microcosmo à imensidão, partindo, por exemplo, de um amontoado de formigas ao no universo das constelações. Ou seja, Através do processo de transformação, somos levados do que é comum, próximo ou, até mesmo, cotidiano para o que é distante e apreciado. É como a xícara de café que se torna o telescópio que permite admirar a lua.
Com Drawings for Prjectio, William Kentridge evidencia o seu método de trabalho e o processo das transformações constante pelas quais as imagens passam. É um maravilhoso trabalho que nos convida a uma imersão reflexiva mais profunda e nos aproxima do universo criativo.

Grupo: Daniel Luz, Beatriz Barros e Juliana Ferraz

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Laura Lima - Eva Klabin‏





A exposição “Cinema Shadow / Segundo”, da artista Laura Lima, na fundação Eva Klabin, nos leva a encarar o tempo e a imagem de maneira diferente à que estamos acostumados. A arista filma os ambientes da casa por 3 horas num plano sequencia, e as imagens são transmitidas ao vivo para o público.




Assistindo a imagens que estão sendo captadas ao vivo, quebramos o padrão ao qual estamos acostumados: assistirmos coisas gravadas, tanto na TV como cinema. Ao mesmo tempo, não se trada de um reality show, pois como diz Marcio Doctors em seu texto sobre a exposição, a obra não tem interesse nem “nem na narrativa nem no conteúdo e nem no significado imediato das coisas”. O que mais importa é o processo de passagem da impregnação da retina pela imagem para a memória, processo esse que acontece individualmente, dentro de cada um, de maneira subjetiva.

As imagens dão, intencionalmente ou não – não é esse o ponto – destaque para situações que podem acontecer diariamente na vida das pessoas, mas que passam despercebidas. Olhar, a cada segundo, o ambiente que está à nossa volta pode ser uma ideia a ser absorvida da exposição, dentre várias outras que podem ocorrer a cada um.

O interessante é que como a própria artista está filmando todos os dias, com transmissão ao vivo, cada dia é uma exposição diferente, pois são mostradas imagens novas, de ângulos novos, com novas percepções e influência também do estado psíquico que Laura apresenta.





Alexandre, Gabriel e Nickolas

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Eva Klabin

A Fundação Eva Klabin, conhecida por seu acervo de arte clássica, abriga, desde 2004, o Projeto Respiração. Este, que esta em sua 16ª edição, recebe vários artistas contemporâneos no objetivo de contrastar sua arte com a da casa museu. A exposição de Laura Lima, “Cinema Shadow/Segundo”, esteve exposta em um período de 33 dias, onde 100 horas de filmes foram exibidos ao mesmo tempo em que eram produzidos.


Cada filme teve um período de duração de três horas, e apesar de contarem com roteiros previamente planejados, ganharam autonomia, pois os filmes estavam expostos a o acaso, fator que foi responsável por definir o rumo que os filmes tomaram. Podemos dar como exemplo o dia de nossa visita, onde no filme exposto, o foco sofria mudanças pequenas, o que aconteceu pela falta de manipulação e controle exercido sobre a imagem. Assim, o roteiro ganhou autonomia, como planejado pela artista. O sistema de transmissão de imagens usado por Laura permitiu que a exposição de seus vídeos acontecesse em mais de um lugar quase instantaneamente. Porém, pelo fato de transmissões ao vivo serem mais frágeis, estas estiveram sujeitas a interferências e problemas técnicos.
Marcio Doctors, responsável pela curadoria, afirma que a representação não ilusionista em que Laura trabalha é “a semente que compõem a imagem do mundo para a artista”, e que através dela lhe é permitido uma ação de caráter nômade da imagem, como registrado em seus trabalhos. Ainda nas palavras de Marcio, a artista cria uma coerência de articulações, através da vídeo-arte, capazes de nos colocar frente a frente com o mistério do mundo e então nos indica “eis ai o caos!”.
A ideia, originada em Londres, tem como princípios básicos sua instantaneidade e, portanto a não edição dos vídeos, cujos conteúdos são abrangentes. Devido à exibição em tempo real, os vídeos de sua exposição nunca são repetidos, o que permite aos visitantes uma experiência totalmente nova a cada visita. Esse conteúdo é pensado a cada dia pela artista, mantendo a novidade e espontaneidade em seu projeto.



Grupo: Fábio Marinho, Gabriela Rozenbaum, Juliana Espinosa, Luana Kozlowski, Vitória Moraes

Histórias Às Margens (MAM)


          No Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro está instalado o conjunto artístico de uma das artistas mais admiráveis da estética nacional: Adriana Varejão. Mar, azulejo, carne, bar, conchas, texturas, cadeiras e bolhas. O agressivo e o poético, o receio e o atraente, a dor e o prazer seduzem e proporcionam uma aventura imaginária aos visitantes da mostra.

SOBRE MARES E AZULEJOS

          As 40 obras produzidas ao longo dos últimos 21 anos mesclam elementos de mundos, aparentemente, inconciliáveis: há um quê de mitologia grega em Milagre dos Peixes, um tom boêmio em Tea and Tiles ll, nacionalidade em Reflexo de sonhos no sonho de outro espelho e Panorama da Guanabara, uma pitada de ilusão de ótica em Parede, frescor em Margem, sensação de umidade em Green Sauna, barroco em Paisagens e vários outros universos possíveis que o observador puder associar.




          Por diversas vezes, os seguranças do local chamavam a atenção de um ou outro apreciador mais afoito, que tentava ao máximo absorver cada detalhe, cada delicadeza que a obra de Adriana escondia sobre as tintas, carnes, azulejos e conchas um tanto quanto mitológicas. Também, pudera: o trabalho da artista carioca, reconhecidaointernacionalmente, estimula as interpretações singulares, escondidas no íntimo das pessoas. Provoca uma inquietação aliada à curiosidade por explorar a tendência tão humana de rotular uma obra (quando, na verdade, a arte dela é um misto de várias correntes estéticas, filosóficas, literárias e políticas).


Milagre dos Peixes (1991)

          Adriano Pedrosa, curador da exposição, atenta para o fato de, em meio a esse mar de pluralidades, estar sempre presente um elemento comum: o corpo.

“Seja ele rasgado, cortado, dilacerado, esquartejado, em fragmentos, em pedaços. O corpo é revelado enquanto pele e carne da pintura, habitando os interiores da arquitetura e descoberto em suas ruínas.”

          “Prato cheio” para os amantes da arte, Histórias Às Margens estimula o imaginário, provoca reflexões acerca da ordem vigente e ainda é um agrado e tanto para os olhos.
Até dia 10 de março no Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro.

Grupo:
Fabian Falconi
Gabriela Isaias
Laís Januzzi
Mariana Parga
Thiago Patrick


Resenha: A Invenção de Morel


   A invenção de Morel, livro de literatura fantástica latino-americana, foi escrito pelo argentino Adolfo Bioy Casares e publicado originalmente em 1940. A história dá voz a um diário, é contada em primeira pessoa por um venezuelano que, fugindo da justiça, vai habitar uma ilha no Pacífico, tomada por uma epidemia letal e que, apesar das construções misteriosas, era deserta. Um dia, o personagem encontra pessoas na ilha, sem ideia de como elas chegaram lá. Com medo de ser visto, ele se muda para uma área mais baixa do território, mais isolada e, de lá, observa o comportamento dos novos habitantes sem ser notado por eles. Passados alguns dias, o personagem reparou em uma espanhola que ia diariamente no mesmo horário tomar sol perto da praia e por quem ele se apaixonou. Essa paixão fez com que ele tentasse se aproximar dela e do resto do grupo, cuja presença o intrigava muito, mas foi uma tentativa vão. Os turistas não pareciam notá-lo, como se ele não existisse ou fosse invisível.

   Essa constatação levou o personagem a questionar a existência dos novos habitantes: será que eles eram de verdade? Será que eram projeções de pessoas feitas pela  mente solitária dele ou será que ele mesmo estava morto? Enfim, começa a questionar a sua própria sanidade e vida. Nesse ponto, reside um ponto muito interessante do livro: sua subjetividade e consequente abertura para as mais diversas interpretações do enredo. A narração em primeira pessoa permite que a história seja sempre contestada, nunca é possível confirmar que a visão do narrador-personagem é o que realmente aconteceu na ilha. Tudo pode ser mera ilusão da cabeça dele. Enfim, esse mistério é desenvolvido na história que, mais tarde, apresenta ao leitor a justificativa de seu título: a invenção de Morel, uma máquina na ilha que produzia imagens de seres animados, os turistas.

   Então, surge o outro ponto interessante do livro: a questão da imagem. O leitor é levado a pensar sobre os limites entre o real e o virtual. Como o virtual pode afetar efetivamente o real? Como se pode viver no real baseando-se em algo virtual, que não existe objetivamente? Em meio a esse questionamento, é possível envolver o amor. Seria o amor construído pela imagem? O que é a imagem? Se sim, como a imagem do amor se constitui e que maquinação está por trás dela?

   Primeiramente, deve-se ressaltar que o amor é um sentimento e, portanto, totalmente sujeito à subjetividade da pessoa que o sente. As definições de amor são divergentes entre as pessoas, no entanto, é possível dizer que esse sentimento é baseado em uma imagem: a imagem criada do(a) amado(a) que não é composta por características objetivas dele(a), mas sim através da visão “distorcida” pelos sentimentos da pessoa apaixonada, que eleva o(a) outro(a) a um patamar de ideal, de perfeição. Isso pode ser explicado pela intensidade de sentimentos como o amor, que exigem um “distanciamento” da realidade. Amar, deixar-se ser mais irracional e mais propenso à instabilidade emocional só é motivado pela idealização, por uma  visão “distorcida” que não sofra intervenções da fria vida real e da racionalidade. Sendo assim, pode-se considerar que a mente “sob os efeitos do amor” é a maquinação que produz uma imagem, um ideal do amor/do(a) amado(a) que funciona como seu próprio escudo para se manter, contra a objetividade da vida. 

Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto. 

As ordens mínimas do entendimento



Com um “habitat” pouco normal aos olhos leigos, Fernanda Gomes faz a arte se renovar e amostra a quem desconhece a arte uma nova visão: A mente exteriorizada em um ambiente, que com detalhes basicamente não notáveis (O que, de certa forma, explica o nome da exposição). Sua exposição, que acontece na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, pode ser considerada um cúmulo da abstração.

Várias e nenhuma concepção podem ser tiradas das obras, não nomeadas, em cada um dos “cômodos” que no fim de tudo, não passam de cantos da mente de Fernanda, que se mostra razoavelmente vazia, se olhada exteriormente, mas que com uma observação mais atenciosa, é cheio de pequenos detalhes, alguns perturbadores. A ganância, demonstrada com as moedas no canto do primeiro ambiente, a vontade de ser livre, que fica por conta das malas no mesmo local e da sacola plástica no lado de fora da janela. Remorsos enormes, que ficam na interpretação dos fios soltos pelas salas. Porém, nenhuma peça chama atenção tanto quanto a pipa, quase crucificada no barbante, no ambiente que dá vista pro mar.



Como uma metáfora da própria artista, que se mostra perturbada pelas farpas nas suas paredes, a pipa mostra quão presa a uma realidade que não é sua Fernanda Gomes se sente.
Pipas foram feitas para voar. E se destroem quando ficam dentro de caixas. Uma autodestruição que é digna da pena. E de admiração. Fernanda nos expõe seu cérebro, só que cérebros competem aos humanos as mínimas ordens de entendimento possíveis.

Grupo: Angélica Moreira, Everton Maia, Priscila Minussi, Ruggeron Reis e Thayanne Porto. 

Adriana Varejão - Histórias às Margens




A exposição “Adriana Varejão – Histórias às Margens”, no MAM do Rio de Janeiro, pode, num primeiro momento, causar até certo mal estar, pelo menos àquelas pessoas que não estejam acostumadas a frequentar exposições como essa. A artista carioca, que completa 50 anos no ano que vem, apresenta cerca de 40 trabalhos, muitos deles óleo e gesso sobre tela, que foram produzidos nos últimos 21 anos. Por isso, Histórias às Margens é chamada por ela e pelo curador Adriano Pedrosa de uma panorâmica de sua obra, não de retrospectiva, pois o último termo remete muito ao passado, e a exposição inclui obras atuais.

O mal estar, falado acima, é decorrente das entranhas introduzidas pela artista em muitos de seus trabalhos. Com incisões nas telas, ela evidencia entranhas de seres vivos, talvez querendo mostrar a vivacidade de tal imagem, ou a interferência causada no meio pelo homem. O fato é que a imagem é impactante. Outras obras mostram corpos descompostos ou esquartejados.

Varejão também usa a questão da tridimensionalidade, tanto nas obras com as incisões quanto em outras. Em umas ela utiliza sobreposições de telas para formar uma imagem, em outras, objetos como garrafas são parte da tela, como se tivessem inseridas nela. Em outras, parece que a tela é descolada e se insere em objetos do cotidiano, como cadeiras e copos. Grande parte dos trabalhos expostos apresenta azulejos, referências à era colonial do Brasil, uso de cartografia e referências à religiosidade.



A exposição de Adriana, uma das artistas brasileiras mais bem sucedidas e reconhecidas internacionalmente, conta, ainda, com obras inéditas no Brasil, e com outras feitas especialmente para a exposição. Com patrocínio do Bradesco Seguros e da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a panorâmica segue até o dia 17 de março de 2013 no MAM.




Alexandre, Gabriel e Nickolas

A invenção de Morel



Em A invenção de Morel Adolfo Bioy trata do problema entre o real e sua representação, uma antiga questão filosófica que é objeto de estudo.

No livro a vida de fugitivo do personagem principal é relatada; condenado a prisão perpétua ele foge de sua terra natal a fim de escapar da prisão. Em suas andanças, encontra um vendedor de tapetes que o encoraja a fugir para uma ilha desconhecida, “foco de uma moléstia”, e por isso mesmo desabitada. Sem muitas opções o foragido parte para a tal ilha que então passa a ser cenário da história.
Depois de uma turbulenta viagem o protagonista chega em condições precárias a seu destino. Não demora muito e ele descobre não estar só: há moradores no chamado museu da ilha. Surpreso, o em um primeiro momento, ele os toma por alucinações causadas pelo forte calor da ilha, mas chega à conclusão de que “são homens de verdade, ao menos tão de verdade quanto eu”. É interessante observar tal declaração, aqui nosso personagem principal identifica-os como seus semelhantes e logo os teme pela possibilidade de denunciá-lo.
Solitário e em situação precária ele se refugia no museu, onde faz descobertas sobre o lugar e seus moradores. Entre os quais ele descobre uma mulher a observar o pôr do sol que lhe desperta o interesse e aos poucos a paixão. Vê-la passa a ser imprescindível e ele, que antes vivia a esconder-se, passa a planejar uma aproximação, mas todas as suas tentativas falham miseravelmente por um simples fato: ela o ignora, sequer toma conhecimento de sua presença. Ainda assim ele continua a investir numa possível interação, mas descobre que a mulher já possui companhia, um tenista barbudo. Ouvindo uma de suas conversas descobre-lhes o nome: o do tenista, Morel; o da mulher, Faustine. E mais, agora o fugitivo passa também a observar mais de perto os outros moradores da ilha, porém todos parecem estar alheios a sua presença. É aqui que ele passa a questionar o porquê de tanta indiferença, terá ele contraído a famosa peste e tudo o mais não passou de ilusão? Estará ele invisível por conta da mesma? Estarão os intrusos mortos? Estará ele próprio morto? O que é real e o que não é passam agora a confundir-se.

Entre uma conversa e outra percebe que Morel planeja algo e que está preste a contar aos seus amigos. Temendo que seja um plano para capturá-lo decide arriscar sua liberdade para descobrir do que se trata. Surpreendentemente Morel não planejou capturá-lo, mas sim a imagem de seus amigos para de tal forma eternizá-los. Há então um misto de indignação, horror, revolta e incompreensão e Morel prossegue a explicar sua invenção... um álbum de memórias vivas... um sistema de reprodução da vida que capta momentos específicos, inclusive este, e os repete consecutivamente.

O fugitivo está novamente só; as imagens não vivem e talvez nem as pessoas as quais elas pertencem. Faustine provavelmente não vive e se vive está fora de alcance. O que resta ao apaixonado protagonista é a imagem de sua amada. Seu amor desde o início foi deu-se pela representação de quem ele imaginava ser real, não diz respeito a quem ela realmente pertence. Sendo assim, opta por gravar sua própria imagem assim juntando-se a Faustine pela eternidade.




















GRUPO – Clarice Ferro, Débora Polistchuck, Natascha Oliveira, Gabriela Oliveira, Bruna Câmara - EC2

Projeto Respiração - Cinema Shadow/Segundo



“Até onde o espectador alcança quando olha uma obra de arte?”: Esta é a pergunta que Laura Lima e sua obra, o Cinema Shadow/Segundo, propôs quando decidiu gravar 100 horas de filme com longos plano sequencia e roteiros previamente definidos de 3 horas cada, grvados durante os 33 dias de exposição.
      Criado em Londres, este híbrido de cinema e performance, traz uma obra que não conta com edição. Tudo é exibido em tempo real. Laura chama seu roteiro de partitura e assim comanda seu espetáculo na Fundação Eva Klabin, onde abriga o Projeto Respiração, projeto que a obra de Laura pertence.
      O Projeto Respiração, que tem a curadoria de Marcio Doctors, consiste em convidar artistas contemporâneos a intervirem no circuito expositivo da casa museu, criando uma ponte entre a arte consagrada do passado e as manifestações contemporâneas. Está na sua 16ª edição.
      Como Marcio Doctors disse: “Laura Lima esvazia a representação como ilusão ou mimetismo para substituí-la por uma rede de conteúdo e expressão, criando coerência de articulações capazes de nos colocar frente a frente com o mistério do mundo, sem cerimônia ou inocência, indicando-nos: eis aí o caos!”.

Grupo: Elaine Taffner, Fernanda Turbay, Nathália Beserra, Raquel Mandarino, Thais Brunoro.

A Invenção de Morel - Resenha


O livro se apresenta em forma de um diário de um perseguido político venezuelano que foge para uma ilha remota e misteriosa onde, em 1924, um milionário excêntrico construiu uma capela, um hotel-museu e uma piscina, hoje abandonados. A ilha é rodeada com a lenda de que fora abandonada, pois abrigava uma misteriosa moléstia que "mata de fora para dentro". Ele faz o uso de imagens durante toda a narrativa e seu caráter é bastante descritivo. O livro se inicia com uma breve descrição de como ele fora parar nesta ilha, das dificuldades que tem passado e com a explicação do por que está escrevendo. Alega que sua sobrevivência seria um verdadeiro milagre já que está vivendo sob condições muito adversas e que gostaria de deixar um testemunho desse milagre. Seguido disso, ele descreve o que tem na ilha e as pessoas que ali surgem: um estranho homem, uma mulher de aparência cigana por quem se apaixona perdidamente e se torna o centro de suas atenções e alguns outros habitantes sem tanta importância.
No decorrer da trama, o protagonista narra as dificuldades que tem passado, as doenças pelas quais é acometido, seus progressos e fracassos diante da tentativa de sobreviver nessa ilha como foragido. Seus relatos são não só factuais, mas também psicológicos, o que dá ao leitor a liberdade de interpretar se os acontecimentos absurdos são fruto de uma loucura adquirida nesses anos de fuga e solidão ou se são de fato reais. Nessa linha entre o real e o imaginário suposto, o foragido foca sua narrativa nos desconhecidos subitamente surgidos na ilha, em especial na moça pela qual anseia ter, Faustine. Eis que, quando o personagem decide finalmente entrar em contato com ela, deixando de lado qualquer prudência quanto a ter que prestar contas com a justiça por sua condenação, a trama se intensifica e a questão da loucura se torna cada vez mais presente na mente do leitor: a moça parece não percebê-lo. Por mais que ele faça de tudo para chamar sua atenção, tentando falar com ela e se expressar por gestos majestosos - ele planta um jardim inteiro com uma mensagem para ela -, ela ignora sua existência.
Morel, acompanhante de Faustine, é igualmente misterioso. O fugitivo analisa as conversas destes dois personagens, suas atitudes, e ainda assim não descobre se são amigos ou amantes. A dúvida o persegue. Não consegue determinar também o porquê de nenhum deles conseguir vê-lo. O foragido é completamente invisível aos olhos de qualquer pessoa da ilha, mas os animais ainda o sentem. Após alguns trechos da história, é descrita uma cena em que os personagens jantam no museu, e o protagonista os observa. Este é o clímax. Morel pára o jantar para dar a todos uma grande notícia. A notícia sobre sua invenção, uma máquina de eternizar o tempo. Diz a verdade sobre a ilha, sobre a semana em que ele e seus amigos haviam passado lá. Na realidade, já estavam todos mortos. A máquina destruía os corpos, enquanto montava projeções, sendo esta a tal moléstia que matava de “fora para dentro”. As imagens seriam projetadas nas paredes do museu e em todos os cenários da ilha, para sempre. O fugitivo então percebe, que tudo não passava de uma “mentira”. Faustine, sua amada, era uma espécie de fantasma, uma ilusão. Mesmo assim, decide que deveria passar o resto da eternidade ao seu lado. Submete-se ao processo de eternização, colocando a máquina para funcionar em si, ao filmar momentos em que está próximo de Faustine.
É possível compreender, a partir desta obra literária, a relação entre amor e imagem de forma mais esclarecida, uma vez que o livro trata de um caso de um amor por uma imagem insubstancial. Afinal, o amor não é sempre direcionado a uma imagem criada? Não há amor pelo real de fato, mas sim pelo imaginário, ou seja, uma ilusão que criamos e mantemos para amar a partir do real, que nos parece mais bela e adorável do que o objeto de amor em si. No livro, as projeções são imagens ao fugitivo – que é observador – e a imagem de amor que cria por Faustine é gerada por ele. O sentimento inicia-se no interior de alguém, e quando é exteriorizado, se transforma numa imagem. A imagem é justamente a pessoa amada, porém como ela é vista aos olhos do apaixonado. Ela é diferente perante seu olhar, apesar de continuar a mesma. No livro podemos juntar a imagem adquirida e a gerada no mesmo exemplo: Faustine. Pela sua existência ser uma projeção, ela e uma imagem, da forma mais literal que a palavra possa adquirir. O  amor do fugitivo por sua projeção, também passa a ser uma imagem, gerada a partir dele; o amor altera o jeito como ele a vê. A invenção de Morel é contemporâneo e possui uma validade universal, com um valor inegavelmente vitalício para avaliar o poder das representações e reproduções visuais.


Grupo: Fábio Marinho, Gabriela Rozenbaum, Juliana Espinosa, Luana Kozlowski, Vitória Moraes

"The Film That Is Not There"


       O filme que não está ali: Esta é a tradução do nome do mais novo trabalho de Kika Nicolela, artista paulistana que já participou de mais de 100 exposições individuais e coletivas em vários países no mundo – sendo sua primeira individual no Rio de Janeiro - e que nos contempla agora com a vídeo – instalação nomeada “The Film That Is Not There” que contou com mais de 100 atores de Singapura, Coréia do Norte e Suiça, e foi gravado durante as residências artísticas de Nicolela.

“The Film That Is Not There”, desmembra a ideia do filme que nunca irá existir. A obra é composta por vários vídeos que, na realidade, são testes de elenco baseado em um roteiro também escrito por Kika e traduzido nas línguas locais.  Os vídeos são 
expostos como se um ator estivesse conversando com o outro, sendo que nenhum deles nunca chegou a se conhecer e assim, a história, que tem na repetição um dos seus grandes alicerces, vai se tecendo, se construindo. 
O trabalho de Kika Nicolela nos prende, seja pela curiosidade de entender o que é dito, seja por observar que cada ator traz em si uma interpretação diferente do roteiro e então, apesar da repetição de falas, a cena nunca é a mesma, emocionando de diversas formas, aquele que assiste e que logo no comecinho, já se sente parte da obra. 
A vídeo – instalação tem como objetivo a desconstrução do roteiro dado pelas diferentes interpretações, como revelou Nicolela ao site funarte.gov.br onde ela diz que: “Existe um potencial muito maior em deixar que cada ator, e cada espectador, construa sua própria versão”, comenta a artista. “O cinema exerce uma influência direta sobre a minha pesquisa artística, que recai principalmente sobre o desmembramento e questionamento dos dispositivos de representação e narrativa, sobre a questão do sujeito e sobre a relação entre autor, espectador, câmera e objeto”.  A exposição é fruto de um projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea – Projéteis Funarte de Artes Visuais Rio de Janeiro e se encontrou lá por um mês, entre 22/11 e 21/12 de 2012. 

Grupo: Elaine Taffner, Fernanda Turbay, Nathália Beserra, Raquel Mandarino, Thais Brunoro.

Resenha Crítica: A Invenção de Morel

A ILHA EM QUE TUDO ERA ETERNO
A obra-prima de Adolfo Bioy


          Célebre escritor argentino e um dos maiores nomes da literatura fantástica latino-americana, Adolfo Bioy Casares consolidou seu reconhecimento nas letras ao publicar, em 1940, A Invenção de Morel. Ao receber, anos mais tarde, um dos maiores prêmios da língua espanhola, o Miguel de Cervantes, dentre muitas outras láureas ao longo de sua trajetória, Bioy projetou-se, definitivamente, como um dos grandes prosadores da literatura argentina no cenário internacional.
          O prólogo do livro pertence ao escritor, crítico e amigo de Bioy, Jorge Luís Borges. O poeta argentino principia o texto com a comum ideia à sociedade de que a originalidade e relevância das obras literárias estão se extinguindo, visto que as novelas “sem argumento ou com argumento infinitesimal atrofiado”¹ tornam-se cada vez mais apreciadas pelos leitores de diversos países. Poucos são os autores que renovam conceitos e propõem ideias novas. Bioy é um deles. Borges não hesita em classificar a trama de Casares como “perfeita”.
          Escrito em forma de diário, A Invenção de Morel inicia-se com a descrição de uma ilha quente, repleta de mosquitos, dotada de plantas, capinzais, pântanos e córregos sujos, com fortes marés irregulares. O lugar conta ainda com edificações concluídas e abandonadas: um museu, uma igreja e uma piscina. Trata-se da perspectiva de um foragido da polícia, perseguido injustamente por motivos não citados, sobre o esconderijo encontrado para sua fuga. Ao saber da ilha através de um mercador italiano, o personagem ignora a fama do local – conhecido como foco de uma enfermidade que “mata de fora pra dentro” ² –, tamanha é a sua sede por liberdade.
          Após 100 dias na ilhota, aparentemente deserta, o fugitivo nota a repentina presença de um grupo de pessoas que comportavam-se como veranistas instalados. Dentre os novos habitantes, estava Faustine, por quem o solitário desertor apaixona-se perdidamente. A bela mulher de pele dourada e cabelos pretos, que contempla o pôr do sol todas as tardes no alto de uma colina, desperta reflexões e atitudes antes impensáveis pelo personagem: além de dedicar um jardim à misteriosa espanhola, ele tenta, por vezes, estabelecer diálogos com ela. Em vão. 

“Não foi como se não tivesse me ouvido, como se não tivesse me visto; foi como se seus ouvidos não servissem para ouvir, como se seus olhos não servissem para ver.”³

          Entre narrações sobre a dificuldade em dormir nos baixios alagados pelas marés violentas e alimentar-se de estirpes desconhecidas, o homem elabora as mais diversas hipóteses sobre o porquê de Faustine e todos os outros “novos moradores” da ilha ignorarem-no, “como se eu fosse invisível” 4. Estaria ele tendo desatinos devido àquela peste da qual falara o comerciante italiano? Seriam as novas raízes que ele experimentara, alucinógenas? Sua alimentação deficiente teria lhe tornado mesmo invisível? Ou os intrusos poderiam ser alienígenas? A ilha seria um grande manicômio? E, ainda: aquelas pessoas estariam mortas? Ou ele é que já não tinha mais vida? O fato é que as conversas daqueles indivíduos se repetiam, as cenas eram as mesmas de alguns dias atrás e até mesmo as palavras e movimentos reprisavam-se.
Louise Brooks, estrela do cinema mudo da
década de 20, foi a principal inspiração de
Bioy na composição de Faustine
          Entre os outros membros do grupo, destacava-se um “horroroso tenista barbudo”, alto, de “dentes abomináveis5, cujo nome era Morel. A explicação para todos os mistérios da ilha e a grande perspicácia da obra surge através da descoberta da invenção de Morel: o que acontecia no lugar era, na verdade, um grande experimento científico. Morel arquitetou uma espécie de máquina que capturava imagens, sons, tato, sabor, cheiro e temperatura de cenas protagonizadas pela turma de amigos e registradas pelo aparelho. O jogo de receptores possibilitava a projeção de animais, plantas, pessoas e ambientes como se aquilo, de fato, se materializasse instantânea e infinitamente. Era a eternização da vida.
          Após descobrir através de uma dessas projeções gravadas por Morel – na qual o próprio cientista-tenista reunia as pessoas e informava sobre sua invenção – que todas aquelas cenas eram repetições das ações dos turistas (gravadas em uma época incerta), que a ilha era habitada por fantasmas artificiais e que, ainda, ele estava apaixonado por uma imagem, o solitário fugitivo passa a refletir e arquitetar a sua morte. Após estudar todas as cenas projetadas pela “máquina da eternidade” e praticar repetidos ensaios durante quinze dias, ele encontra um meio de inserir-se nas imagens já gravadas, penetrando no mundo de aparências projetado, estabelecendo diálogos naturais e movimentos harmônicos aos que a imagem de Faustine fazia.
          Como todos que foram expostos à ação daqueles aparelhos projetores, o desertor vai, aos poucos, deixando este mundo: perde os cabelos, a pele, as unhas, a visão, o tato e todos os sentidos que foram incorporados pela máquina (era a “doença que matava de fora para dentro”). O diário, em que narrara e descrevera suas experiências desde que chegara à ilha, transforma-se em uma espécie de registro de delírios e alucinações do fugitivo. Mas ele manteve a consciência íntegra até a última linha do manuscrito, quando pede aos possíveis futuros leitores o seguinte:

“À pessoa que, baseada nessas informações, inventar uma máquina capaz de reunir as presenças desagregadas, farei uma súplica: procure-nos, a Faustine e a mim, faça-me penetrar no céu da consciência de Faustine. Será um ato piedoso.6

E, assim, morre. Sua alma passa à sua imagem projetada para estar com Faustine em uma visão que nunca ninguém recolherá. 


Criação de nova capa e diagramação do livro por alunos do SENAC de São Paulo
           Fantasmagórica, fascinante, opressiva e genial, a ficção científica de Bioy dialoga diretamente com o texto O Mundo das Imagens (Sobre Fotografia, 1973), de Susan Sontag. Nele, a escritora americana discute o papel que as imagens ocupam na sociedade e a realidade como um conjunto de aparências:


“No mundo real, algo está acontecendo e ninguém sabe o que vai acontecer. No mundo-imagem, aquilo aconteceu e sempre acontecerá daquela maneira. (...) O que na realidade está separado, as imagens unem.” 7

Sontag comenta que o pânico que algumas tribos primitivas têm das câmeras decorre do pavor de pensar a foto como uma parte material delas mesmas, assim como em A Invenção de Morel, uma passagem explicita este referido exemplo:
“Por acaso, recordei que o fundamento do horror, que alguns povos sentem, de se verem representados em imagens, é a crença de que, ao se formar a imagem de uma pessoa, a alma passa para a imagem e a pessoa morre.” 8
Susan lembra ainda, que algum vestígio dessa magia perdura na sociedade atual: a relutância em rasgar ou jogar fora a foto de uma pessoa amada, sobretudo quando morta ou distante faz parecer que ela está ali, materializada na imagem. Assim como a obra de Bioy, em Sobre Fotografia Susan discute através de outra linguagem e sob diferente contexto, o fascínio exercido pelas imagens na população – o que demonstra a sagacidade de Adolfo Casares (que falou sobre essas técnicas revolucionárias nos anos 40, quando ainda não se falava tanto sobre o assunto).
          A obra-prima do argentino atenta também para a questão imagética e quase platônica que circunda as relações amorosas durante a História: em grande parte das vezes, idealiza-se a pessoa amada, concedendo a ela uma espécie de aura perfeita. Poucos têm em mente, porém, que a imagem projetada não diz respeito às características autênticas do outro, mas sim aos desejos e expectativas de quem arquiteta essa ilusão. Outras tradicionais histórias românticas estimulam o raciocínio de “quanto mais obstáculos existirem ao amor, mais intenso ele será”. Exemplos como as narrativas de Romeu e Julieta, Tristão e Isolda e as incontáveis novelas passadas na televisão reforçam essa ideia. Afinal, se Faustine não fosse uma imagem, o fugitivo teria se apaixonado por ela? Ele gostaria da personalidade, atitudes, pensamentos e até mesmo da voz da bela mulher se a tivesse conhecido pessoalmente?  Nunca se saberá.


          Ao final da história, todas as soluções para os mistérios são inacreditavelmente apresentadas, fazendo com que o leitor retorne diversas vezes às primeiras páginas do livro, a fim de encontrar alguma falha ou lacuna nas explicações expostas. Em vão. Tudo é rigorosa e atentamente observado pelo autor, que não deixa passar à vista qualquer fato que possa levantar dúvidas. Com grande riqueza de detalhes e descrições, A Invenção de Morel possibilita até ao leitor mais distraído a elaboração de sua própria “ilha”: quente, úmida, mística e fantástica. A obra depreende esforço, atenção e energia intelectual de quem a lê, é verdade. Mas é indicada para todo e qualquer amante da boa literatura – seja ela aventura, romance, ficção, psicologia ou suspense. Afinal, não foi à toa que Luis Borges, um dos maiores escritores argentinos de todos os tempos qualificou-a como “perfeita”. A Invenção de Morel é um exemplo de imaginação sem limites, perigo da tecnologia, mistério (e até mesmo amor, como no caso do fugitivo) em torno de referências e, é claro, um convite à uma ilha secreta onde fantasia e realidade se sobrepõem.

Curiosidade: em 15 de setembro de 2012, Adolfo Bioy teve a sua data de nascimento lembrada pelo Google, que elaborou um doodle inspirado no livro do escritor argentino, A Invenção de Morel


Notas:
¹ Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 7
² Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 14
³ Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 35
4 Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 34
5 Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 43
6 Adolfo Bioy CASARES, A Invenção de Morel, citada, p. 124
7 Susan SONTAG, Sobre Fotografia, citada, p. 184
8 Adolfo Bioy Casares,  A Invenção de Morel, citada, ps. 112 e 114




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